Pergunto-me quase todos os dias, nos últimos dez anos, o que é ser oposição. E a resposta é triste.
É perder amigos, efetivos ou putativos.
É perder oportunidades e vantagens.
É não colaborar.
É ser duro e inflexível como um comunista da velha guarda.
É escolher a verdade sobre a conivência.
É deixar de cumprimentar quem diz mal de nós nas nossas costas.
É dizer ‘Não’ a muita gente, quase todos os dias.
É ter coragem física.
É ter olhos como duas balas.
É ser brutal em vez de cínico.
É almoçar sozinho – e gostar.
Nas democracias e nas ditaduras – sobretudo nestas – sempre houve homens e mulheres que escolheram a resistência. A maioria acomoda-se, aceita, conforma-se. Mas ‘há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não’.
Ser oposição não é, portanto, uma questão decibéis nos gritos, é um modo de vida. É uma atitude. E antes de ser uma atitude é um modo de ser. É ser radical na defesa de causas e no combate às causas que se lhe opõem.
O poder corrompe e é tão tentador como a Eva despida no paraíso. Ser oposição é fugir da tentação a sete pés.
sofiarocha@sol.pt