Os nove polícias militares, do 1ºBatalhão de Infantaria Motorizado, envolvidos na morte do músico negro Evaldo dos Santos Rosa e do ‘catador’ de material reciclável Luciano Macedo foram libertados na passada sexta-feira, após o julgamento realizado na quinta.
O crime aconteceu nos subúrbios do Rio, na zona norte, a 7 de abril, e segundo os autos da prisão, Evaldo dos Santos Rosa estava de carro a caminho de uma festa, quando passou pela patrulha do Exército na estrada do Camboatá que atingiu o carro com cerca de 80 disparos.
No veículo de Evaldo dos Santos Rosa estava também a sua mulher, Luciana dos Santos Nogueira, o filho, o sogro e uma amiga. Todos os passageiros sobreviveram, mas o sogro ficou ferido.
No entanto, os disparos fizeram mais uma vítima mortal, Luciano Macedo, um ‘catador’ de material reciclável, que estava presente no local com a mulher grávida e tentou retirar o filho de Evaldo do carro. Macedo acabou por ser atingido pelos tiros, morrendo uma semana depois no Hospital Carlos Chagas.
Os policias militares alegaram que confundiram o carro do músico com outro veículo dos assaltantes que estavam a perseguir.
Familiares e amigos das vitimas clamam por justiça desde abril e, na passada quinta-feira, viram-se desolados com a decisão do Supremo Tribunal Militar. Dos quinze magistrados – o presidente não precisou usar o seu poder de voto – que votaram, só a juiza Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha estava contra a libertação dos militares detidos.
Segundo a magistrada houve “uma tentativa visível de manipulação de provas” por parte dos militares ao longo das investigações. As fotos dos veículos blindados alvejados que os militares alegaram ter usado e que foi baleado durante a ação, de acordo com a mesma, não correspondem a verdade. Mas esta afirmação foi rebatida pelo advogado de defesa que disse “A constituição daquele auto de prisão em flagrante jamais recebeu qualquer interferência dos militares. Aquele é um procedimento formado e investigatório, inicialmente, pelo Comando da 1ªDivisão de Exército. Aquilo é assinado, formado por um general”.
Para Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha as viaturas não são as mesmas e desde o primeiro instante que os militares têm mentido sobre o que realmente aconteceu. “Os militares não circulavam nesses veículos blindados. Eles circulavam numa viatura em que não se verificou nenhuma marca de tiro.
Os militares forjaram três fotografias de carros que tinham sido baleados durante a ação quando, na verdade, o veículo no qual seguiam era outro, no qual as perícias não provaram nenhum disparo ou nenhum tiro”, explicou a juíza.
Isto porque a declaração dos militares foi de que existiram disparos por parte dos ocupantes do carro e que eles foram obrigados a repostar. Mas tendo em conta que as testemunhas, nomeadamente a esposa, relataram outra versão, o Exército não teve outra hipótese senão prender os militares envolvidos.
Maria Elizabeth diz que os peritos não encontraram cartuchos que comprovem que existiu uma troca de tiros. “Isso denota que não houve troca de tiros, porque os disparos e os cartuchos encontrados foram todos localizados numa direção e não houve, então, direções opostas que pudessem de alguma maneira indicar que houve uma troca de tiros, como os militares que participaram da ação alegaram”, revelou.
A juíza prosseguiu: “No nosso país a discriminação racial ainda é levada em conta, os estereótipos ainda são levados em conta para se ferir dignidades, ou seja, para se verificar pelo menos presumivelmente quem pode ou quem não pode ser bandido”, disse, levantando indícios de que o caso é uma das muitas mortes de negros inocentes nas mãos de policias militares. “Quando um negro, pobre, no subúrbio do Rio de Janeiro é confundido com um assaltante, eu tenho dúvida se isso ocorreria com um loiro de olho azul em Ipanema, vestido com uma camisa Hugo Boss”, declarou.