Uma mulher francesa e a sua filha de 17 anos de idade avançaram com uma queixa contra o governo francês, devido aos problemas respiratórios de que ambas sofrem. Para as mulheres, a qualidade de ar da região onde habitaram durante vinte anos está na origem dos seus problemas de saúde. Esta terça-feira o recurso vai ser analisado pelo tribunal administrativo de Montreuil.
A mulher, que preferiu manter a sua identidade em anonimato e escolheu ser apelidada de Faride, morava em Saint-Ouen, nos subúrbios de Paris, entre uma estrada da circunvalação e duas avenidas movimentadas. Sofre de uma tosse forte constante e de uma bronquite que apresenta sinais de asma.
Segundo as declarações dadas à ONG francesa, Respire, a mulher diz que durante um longo período de tempo, passou a vida a tomar antibióticos, cansada e com dores. “Todos os dias eu tinha medo, observava a qualidade do ar no site da Airparif – organização que avalia a qualidade de ar na região de Paris – e caso os valores fossem muito maus, eu evitava sair”.
A filha, apelidada de Baby, é atendida várias vezes na ala pediátrica e já realizou várias sessões de fisioterapia respiratória para combater as bronquiolites. Desde os sete anos que sofre de asma.
Depois de visitarem um pneumologista, as mulheres foram aconselhadas a mudar de residência, visto o médico considerar que “a vida na região de Paris já não é possível”. Faride abandonou o seu trabalho e mudou-se para Orleans, no ano de 2017, com a sua filha. Desde a mudança, que as doenças ficaram para trás e ambas se sentem muito mais saudáveis.
Devido aos custos envolvidos em saúde e ao estilo de vida afetado, Faride e Baby pedem uma indemnização no valor de 160 mil euros ao Estado francês pelos danos sofridos. O advogado François Lafforgu diz que a responsabilidade do Estado é dupla: não acionou nenhum dispositivo eficaz para travar a poluição do ar – que causa cerca de 48.000 mortes prematuras por ano em França – nem a longo prazo nem durante os picos de poluição.
O Ministério da Transição Ecológica e Solidário francês defende que "o Estado tomou todas as medidas necessárias, dentro dos limites das suas responsabilidades nessa área, para reduzir as concentrações de poluentes” e que os valores atingidos na cidade são inferiores aos estabelecidos pela União Europeia.
As autoridades francesas dizem que a culpa das doenças das mulheres se deve à sua “escolha pessoal” de viver numa cidade poluída. Para as autoridades, ao aperceber-se que a sua saúde se estava a deteriorar, Faride deveria ter abandonado de imediato a cidade.
Nos últimos anos, a associação Respire recebeu mais de 500 depoimentos semelhantes ao das mulheres e cerca de cinquenta outros recursos foram apresentados pelas mesmas razões não apenas em Paris mas também em Lyon, Lille e Grenoble.
O tribunal administrativo de Montreuil proferirá a sua decisão dentro de 15 dias. Se for dada razão a Faride e Baby, milhares de franceses que sofrem da poluição atmosférica podem vir a responsabilizar o Estado e “este pode finalmente agir”, afirma o presidente da Respire, Olivier Blond, ao Le Monde.