Transformaram-se já praticamente em memórias essas ocasiões em que as passagens de músicos internacionais por Portugal se faziam em estádios. No tempo do streaming, das low cost e de um acesso à cultura mais facilitado do que nunca, são poucos os nomes capazes de encher um Estádio da Luz. Ed Sheeran, o músico que, aos 28 anos, é, segundo a lista da Forbes para as celebridades mais bem pagas do mundo em 2018, o artista a solo mais bem pago, além de nono dessa lista. À frente de Ronaldo (décimo) e, no que à área da música diz respeito, superado (e por pouco) apenas pelos colossais U2 e Coldplay. Com uma diferença: Ed Sheeran é um músico só.
Um músico que, nesta digressão que ainda na quarta-feira passada fez encher o Estádio de Bordeaux, esgotou ainda em setembro, quando foram postos à venda os bilhetes, as 60 mil entradas para o concerto deste sábado, no Estádio da Luz, em apenas oito horas. Os promotores apressaram-se a anunciar uma segunda data, para 2 de junho, com restrições ao número de entradas adquiridas por cada comprador. Não admira. A última atuação de Ed Sheeran em Lisboa foi há várias edições do Rock in Rio, em 2014. Foi o ano da edição de × (Multiply), o seu segundo disco – depois de + (Plus), de 2011. Este ano, enquanto continua a digressão de apresentação do seu terceiro disco ÷ (Divide), editado já em 2017, prepara-se para lançar, já em meados de julho, depois da atuação em Lisboa, No. 6 Collaborations Project. O seu quarto disco de estúdio, um disco colaborativo, como o título indica, a ser lançado pela Asylum e a Atlantic Records, do qual se conhecem já dois singles: Cross Me, divulgado ainda na semana passada, com os rappers norte-americanos Chance the Rapper e PnB Rock, nome pelo qual é conhecido Rakim Hasheem Allen, e ainda I Don’t Care, com Justin Bieber, cujo videoclipe no YouTube atingiu, em menos de duas semanas, os 75 milhões de visualizações.
A quem não bastarem listas da Forbes, vejam-se as suas aparições em séries Guerra dos Tronos ou Os Simpsons, por exemplo. Ou as notícias desta semana, em que os tablóides britânicos começaram a anunciar a possibilidade de o músico e compositor britânico se vir a tornar bilionário antes de completar 30 anos, depois do anúncio de há poucas semanas de que Sheeran tinha duplicado já a sua fortuna, ascendendo ao lugar de décimo sétimo músico com maior fortuna acumulada do Reino Unido e da Irlanda. Em declarações ao Sun, o especialista na indústria musical Mark Borkowski comentou a sua ascensão: «O homem que tocava nas ruas é o mesmo homem que se posiciona para se tornar bilionário», afirmou. «Acima de tudo, o que isto mostra é o poder que a música ao vivo tem nos dias de hoje».
E a verdade é que para Ed Sheeran pouco mudou desde esse tempo. A sua legião de fãs pode ter passado a encher estádios – no caso de Lisboa, onde atua neste sábado e domingo com James Bay, Zara Larsson e Ben Kweller como convidados, a assegurarem a primeira parte dos espetáculos, com início marcado para as 18h15 – mas Ed Sheeran continua igual a si próprio: o espetáculo é ele, sozinho em cada palco, sem a presença de outros músicos. Ele que reclama como principais influências no seu percurso musical nomes como Joni Mitchell, Bob Dylan, depois de, segundo diz, Irish Heartbeat de Van Morrison o ter apresentado à música.
Em 2014, o ano que marcou aquela que até aqui era a sua única atuação em Lisboa, explicou ele próprio à BBC porquê: «Fui sempre eu e a minha guitarra. Sinto-me petrificado com a ideia de usar uma banda em palco, a banda completa fica só para quando toco na rádio e televisão». A propósito da recente passagem de Sheeran por França, a Paris Match voltou ao tema: «Já sabemos, ao fim de 10 anos, que Ed Sheeran está [sempre] sozinho em cena. Esteja a atuar num pub, numa sala de espetáculos ou num estádio.» Um homem e uma guitarra, e isso basta, até para um estádio.