As eleições para o PE chegaram ao fim. Antes delas, eram inúmeras as vozes de ‘europeístas’ que manifestaram apreensões sobre o futuro da UE, dado o avolumar de problemas estruturais sem solução visível: terrorismo/refugiados/migrações, estancamento económico e corda bamba financeira (ai, ai, Deutsche Bank!), política externa e de defesa/segurança (condicionada e chantageada pelos EUA/NATO), decomposição (Brexit), desigualdades económicas, sociais e ‘estatutárias’ entre países membros e desunião política crescente… Enfim, um novelo de dúvidas e fragilidades que poderiam abrir caminho a uma hegemonia ‘eurocética’ e a um acelerar da desagregação até ao eventual colapso.
Como resultado das eleições nenhuma solução ficou indiciada para qualquer daqueles problemas; mas ficámos ‘felizes’ porque os ‘populistas’ eurocéticos ficaram (ainda) afastados da hegemonia no PE! Grande vitória, empurrámos os problemas com a barriga!…
Simplesmente, as condições do futuro poderão ser ainda mais desfavoráveis do que as presentes:
Como já antes expressei nestas páginas, a UE não nasceu de moto próprio; ela foi feita, segundo declarações expressas de Hillary Clinton, por vontade dos EUA, como instrumento de contenção da URSS e, posteriormente, de incorporação dos ex-’países de leste’.
Nessa mesma linha, e depois do ‘susto’ da Revolução portuguesa de 74-75, que levou Vasco Gonçalves e sentar-se de pleno direito numa cimeira da Nato, os americanos passaram a controlar diretamente quem podia ou não fazer carreira nos partidos políticos europeus suscetíveis de aceder ao Poder. Tiveram êxito em quase todos os países europeus com alguns reveses significativos na Alemanha onde, até hoje, sempre se manteve um grande grau de autonomia. Foi assim que os EUA asseguraram o controlo da direção da UE até ao triunvirato Barroso, Rompuy e ‘baronesa’ Ashton, podendo brincar à vontade com a ‘Europa’ desde a Jugoslávia/Kosovo, à crise financeira de 2008 e à Ucrânia…
‘Entalada’ e espiada pelos americanos, Angela Merkel conseguiu impor, num ‘movimento de libertação’, a remoção do ‘triunvirato americano’ e a nomeação de uma nova equipa a si afeta com Juncker, Tusk e Mogherini.
Tem sido assim possível travar a tentativa americana de recolonizar completamente a ‘Europa’ e encontrar alguns compromissos antibelicistas relativos à Ucrânia, ao Kosovo, ao Irão, ao Médio Oriente, etc.
Com a anunciada saída de Angela Merkel do cargo de Chanceler alemã, restará saber se os cargos políticos na Alemanha e nas principais instituições da UE virão a ser preenchidos por servos/agentes norte-americanos ou por autênticos europeus, independentemente das suas sensibilidades políticas.
Não é por acaso que, desde há anos, toda a campanha dos media (dos do mainstream e de Bilderberg) se dirige contra Merkel (incluindo a generalidade dos ditos de ‘esquerda’), restando também saber se não será a mesma preocupação americana relativamente aos ‘populistas’ que não controlam, que está na base da campanha contra estes.
Eu, pessoalmente, prefiro uma Alemanha e uma UE ‘europeias’ (mesmo cheias de problemas e injustiças) e não como colónias americanas. Assim, ao menos, poderemos vir a poder evitar uma guerra devastadora no espaço europeu.
Se esta não for evitada, de nada servirá o atual ‘entusiasmo’ (americano?) pela luta contra as alterações climáticas na Europa…