Responsabilidade política e social

São os sistemas de gestão a solução para evitar todos os colapsos? A experiência internacional (onde se inclui também os Estados Unidos e Itália, por exemplo) mostra que não, pois na engenharia o risco gere-se, mas não se anula. Contudo, os sistemas têm contribuído para reduzir o número de colapsos

4 de março, 2001. Depois de dias de chuva intensa e anos de extração descontrolada de areia no leito do rio Douro, um pilar colapsou, arrastando parte do tabuleiro da ponte Hintze Ribeiro e a vida de 59 pessoas. Este evento levou as autoridades nacionais a desenvolverem melhores sistemas de gestão, para ajudar na conservação das pontes. 19 de novembro, 2018. Depois de vários anos de exploração de pedreiras e de alertas para os riscos operacionais da estrada municipal EM255, esta acabou por ruir, provocando cinco vítimas mortais. Entretanto, há câmaras municipais a desenvolverem sistemas próprios de gestão de infraestruturas.

Brasil, 6 de abril, 2019. Parte da ponte sobre o Rio Moju, estado do Pará, colapsou sem vítimas, devido ao embate num dos pilares de uma balsa que navegava ilegalmente. Mais, desde 2010, já contabilizei 12 colapsos de pontes, em resultado de problemas estruturais causados, em geral, pelo excesso de carga devido à passagem indevida de camiões, à negligência na construção e à falta de manutenção continuada. Não obstante, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes do Brasil tem implementado um sistema de gestão que, em 2015, tinha inventariadas 5114 obras de arte da rede rodoviária federal (em Portugal, a IP e a Brisa têm cerca de 9000 obras de arte). Contudo, este sistema apenas cobre um número reduzido de obras, nomeadamente as federais. As restantes não têm ainda merecido a devida atenção por parte dos governos estaduais.

Portanto, são os sistemas de gestão a solução para evitar todos os colapsos? A experiência internacional (onde se inclui também os Estados Unidos e Itália, por exemplo) mostra que não, pois na engenharia o risco gere-se, mas não se anula. Contudo, os sistemas têm contribuído para reduzir o número de colapsos.

Embora a dimensão e a complexidade territorial do Brasil é um desafio em termos do acompanhamento das obras de arte, não é menos verdade de que tanto no Brasil como em Portugal muitos colapsos seriam evitáveis com uma sociedade mais consciente, pois em geral observa-se que os colapsos ocorrem por falta de responsabilidade pública no uso das infraestruturas e por necessidade de maior intervenção na exigência de salvaguarda da segurança das mesmas e na consequente responsabilização das entidades que têm a seu cargo a gestão e manutenção. Portanto, estas lições mostram que todos os esforços tecnológicos e científicos só serão efetivos se houver, em primeiro lugar, uma maior responsabilidade pública de todos nós e uma maior responsabilização das autoridades políticas na gestão das infraestruturas.

 

Elói Figueiredo

Professor Associado da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia