Como tu, também sou alentejano, de Évora. Para não ficar em marçano os meus pais mandaram-me para os Pupilos do Exército. Depois, ‘quando as pernas deram para andar’ (Canção do Maltês, Manuel da Fonseca), fui continuar, à ‘borla’, na Escola Naval. O nosso trajeto foi idêntico ao de outros algarvios, beirões e transmontanos ou, ainda a mais ‘gente periférica’ das cidades…
Com uma ligeira diferença: o ‘meio’ com quem eu me identifiquei era ainda mais modesto: foi o dos trabalhadores rurais que, em períodos de fome (e eram muitos) de vez em quando iam apanhar um coelho nas terras dos agrários; para que a GNR não os apanhasse e lhes desse porrada, as crianças não podiam bater com os dentes nos ossos do coelho, para não fazer barulho; o problema maior era como fazer desaparecer a pele do coelho, já que os cães a farejavam…
Talvez que esta pequena diferença de mundos onde vivemos nos tenha dado grandes diferenças de perspetiva e de ‘identificação’!
Tenho pena que tivesses acreditado que ‘tinham’ lutado pela democracia em 1975, pela entrada na CEE na década de 80 e pela moeda única na de 90.
Não, amigo, esse grupo de ‘lutou’ por isso foi o Deles, não foi o Nosso!
Eles só tinham um ‘projeto para o país’, o seu projeto, de voltar a reconstituir o poder dinástico familiar e das cortes de ‘amigos’, de se voltar a apoderar das riquezas nacionais para seu exclusivo usufruto, e de se apoderarem dos ‘fundos europeus’, que eram a contrapartida pela entrega de Portugal ao estrangeiro. O único projeto que hoje têm (e que mantêm em surdina) é o da dissolução política e cultural de Portugal numa nuvem satélite de um qualquer agrupamento financeiro internacional. Sim, estamos ‘agarrados’ (já falam que até 2050!) pela Dívida. Os teus netos já nascerão e viverão com a bola de escravos da dívida no tornozelo!
Por isso, amigo, não te enganes quanto a quem somos Nós e quem são Eles!
O retrato que fizeste da atual situação política e social foi globalmente correto. Porém, porque tu próprio prisioneiro de conceitos e crenças falhadas (a maravilha da UE) não percebes porque algo ‘correu tão mal’ nem como sair do imbróglio. Não, não é só dos políticos que haverá de esperar uma resposta para a ‘falta de projeto nacional atual’. A ti, a todos, como cidadãos e pessoas inteiras, também compete encontrar essa resposta e passar à ação, com ou à margem das ‘elites’.
Quanto aos princípios da vida em comum entre os portugueses, estou inteiramente de acordo contigo; gostava de ser teu companheiro de luta num processo que só fosse guiado pela Ética, pela inclusão e dignidade de Todos, sem gatunos e muita generosidade humana e patriótica.
Deixa que esses moderninhos de ‘esquerda’ e de ‘direita’, cosmopolitistas e europeístas, despedacem o teu discurso como ‘populista’ ou ‘salazarento’. Só mostra quanto se encontram afastados do Povo e da Ética e se encontram prisioneiros pelos interesses dominantes.
Por uma Revolução Democrática, Ética e Patriótica!
Pela Reconquista da Soberania e da Dignidade Nacionais!