Se era óbvio que um dos protagonistas do duelo pela liderança dos conservadores britânicos seria o ex-presidente da Câmara de Londres Boris Johnson, já não era tão claro quem o defrontaria. Na manhã de quinta-feira ainda estavam em jogo quatro dos 10 candidatos iniciais, que passaram a três e posteriormente dois, com a eliminação do ministro do Ambiente, Michael Gove, que conseguiu o voto de 75 deputados conservadores – ficando a dois votos dos 77 do ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt. Agora, a decisão de quem será o próximo primeiro-ministro britânico passa para as mãos dos cerca de 160 mil militantes do Partido Conservador. Se tudo correr como planeado, os britânicos serão informados de quem os irá governar na semana de 22 de julho.
Como em tudo na política britânica nos últimos tempos, a eleição do próximo líder conservador vai girar à volta de como e quando sair da União Europeia. Mas, para variar, a opção de não sair não está em cima da mesa, dado que tanto Johnson como Hunt são inequívocos quanto a quererem sair da UE a 31 de outubro – com ou sem acordo. Johnson é o mais entusiástico quanto ao assunto, tendo sido um dos principais organizadores da campanha pelo “sim” no referendo de 2016. Agora, ameaça não pagar os mais de 40 mil milhões de euros que foram negociados pela primeira-ministra demissionária, como indemnização à UE pelo Brexit. O objetivo é pressionar os líderes europeus para concederem melhores condições de saída, mas está por saber se a estratégia terá sucesso. Entretanto, Johnson assegura que “a melhor maneira de conseguir um bom acordo é prepararmo-nos para que não haja acordo”. Algo que dá ao favorito na corrida o total apoio dos eurocéticos.
Já Hunt não esconde que não é o favorito nesta corrida. Apesar de ter feito campanha para o Reino Unido ficar na UE, afirma-se um “brexiteer renascido”. E mantém a estratégia de aceitar uma saída não negociada se não conseguir uma melhor negociação que Theresa May. Não são claros os motivos que o deixam tão seguro de conseguir o que a primeira-ministra demissionária falhou uma e outra vez.
Pouco antes da última ronda de eliminações, fontes próximas de Hunt alertaram a BBC para os riscos de se reacender o “drama psicopessoal” entre Gove e Johnson. O antigo presidente da Câmara de Londres ainda deve ter pesadelos com o momento em que Gove dinamitou a sua campanha à liderança, em 2016, quando passou de um dos seus mais proeminentes aliados para anunciar uma campanha própria, dividindo os votos eurocéticos, tendo um papel fulcral na vitória de May, de quem viria a ser ministro. O duelo entre Hunt e Johnson terá a vantagem de evitar as reminiscências sobre facadas nas costas, bem como as polémicas sobre as revelações do uso de cocaína por Gove, que terão tido um papel na sua derrota. “Paralisou-nos e significou que se perdeu ímpeto”, reconheceu à BBC o diretor de campanha de Gove, Mel Stride.