À 73.ª edição, a maior liga de basquetebol do mundo viu o título fugir para fora dos Estados Unidos. Mérito dos Toronto Raptors, que desafiaram todas as previsões iniciais e bateram os todo-poderosos Golden State Warriors, dominadores totais do jogo nos últimos anos (bicampeões em título e campeões três vezes nas últimas quatro temporadas): 4-2 nas finais, com três dos triunfos a surgirem no recinto dos Warriors, em Londres, e festa rija no Canadá, onde agora a NBA já rivaliza à séria com a NHL e o basebol.
Um nome, todavia, terá de ser destacado de entre o elenco do conjunto de Toronto: Kawhi Leonard. O extremo foi a aposta surpresa de Masai Ujiri no início da temporada: o nigeriano que preside aos Raptors decidiu trocar DeMar De Rozan, estrela da equipa durante nove temporadas – e o único jogador que alguma vez expressou o desejo de passar toda a carreira na equipa de Toronto –, por Leonard, campeão (e MVP da final) em 2014 pelos San Antonio Spurs mas que vinha de uma temporada muito negativa nos Spurs, assombrado por lesões.
Foi um risco, tanto para a franquia como para Leonard, mas que viria a revelar-se totalmente acertado. O extremo de 27 anos carregou os Raptors até ao segundo lugar da Conferência Este na fase regular, só atrás dos Milwaukee Bucks, e depois nos playoffs, abatendo Orlando Magic (4-1), Philadelphia 76ers (4-3, no primeiro jogo 7 da história dos playoffs a ser decidido por um cesto no último segundo – apontado, claro está, por Leonard), e precisamente os Bucks na final a Este (4-2).
Na finalíssima com os Warriors, mais do mesmo: Leonard foi o grande destaque, empurrando a sua equipa para o inédito título, e acabaria mesmo por ser eleito MVP da final pela segunda vez na carreira, igualando um feito só conseguido antes por LeBron James e Kareem Abdul-Jabbar (MVP da final por dois clubes diferentes).
Pelo pai e pela paixão
Kawhi Leonard é uma personagem curiosa. Homem de poucas palavras, é no entanto conciso e certeiro no que diz. Antes da finalíssima, na entrega do troféu de campeões a Este aos Raptors, Masai Ujiri exaltava «o melhor jogador do mundo». Sempre tranquilo, Kawhi respondia simplesmente: «Não me importa ser o melhor jogador. Quero é estar na melhor equipa».
O sonho de ser basquetebolista profissional vem mesmo da infância, passada ao lado de quatro irmãs (todas mais velhas) na grande Los Angeles. Uma infância feliz – ao contrário da adolescência: aos 17 anos, quando jogava pela equipa do colégio Martin Luther King, o seu pai foi assassinado a tiro no stand de lavagem automática do qual era dono.
Um episódio traumático, que ainda assim não o fez desistir do sonho. No draft de 2011, aos 20 anos, foi selecionado pelos Indiana Pacers como 15.ª escolha. A franquia, todavia, já tinha Paul George como extremo e procurava antes um base: foi a oportunidade que os Spurs esperavam. «Ele era mais sério do que um ataque cardíaco. Algumas pessoas querem muito a grandeza: ele não liga nenhuma para ser uma estrela. Ama o jogo e ignora o resto. Se o ginásio estivesse vazio, provavelmente ele ainda desfrutaria muito mais», disse uma vez Gregg Popovich, lendário treinador dos Spurs, à revista Sports Illustrated.
Agora, outra novela anima os amantes da modalidade: é que Leonard assinou apenas por um ano com os Toronto Raptors, o que faz dele um free agent. Ou seja, está livre que nem um passarinho para decidir o seu destino: fica no Canadá, para tentar engrandecer ainda mais a lenda além-fronteiras, ou aceita novo desafio numa das grandes – ou das médias – franquias norte-americanas? Para já, o grande rumor da pré-temporada coloca-o nos… Los Angeles Lakers, que nem LeBron James conseguiu devolver aos dias de glória. «Não tenho medo dos grandes momentos. Gosto deles. Tinha o objetivo de fazer história assim que cheguei a Toronto. E fizemos». Leonard é isto, e neste momento tem dois países em suspenso à espera da sua decisão. É obra.