Gosto de futebol, sou adepto do Sporting Clube de Portugal, mas isso não me impediu de vibrar com a presença do Futebol Clube do Porto nos quartos de final da Liga dos Campeões, nem de apreciar o esforço do Sport Lisboa e Benfica de recuperar de um atraso de sete pontos para sagrar-se campeão nacional.
Fruo do desporto pelo que tem de mais espetacular, pelos feitos históricos, pela superação de barreiras do ser humano, pelo exemplo que dá a outras dimensões da vida em sociedade.
Vejo no desporto algumas das mais lindas lições da grandeza humana… mas também algumas das nossas manifestações mais negras. A clubite é uma delas.
O ambiente de guerrilha do futebol nacional é nefasto ao seu desenvolvimento e contraria a essência do desporto.
No ténis também há três grandes, mas o comportamento de Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic é distinto do que acontece entre SCP, SLB e FCP.
Embora não concorde totalmente com a proclamação de que são os três melhores tenistas de todos os tempos, a verdade é que são vistos como tal pelo público, pelos media e pelos seus pares.
E à medida que forjam um palmarés inédito e exercem um domínio nunca antes visto – partilharam entre si os últimos dez títulos de Majors – tornam-se cada vez mais em perfeitos embaixadores, não só do ténis, mas do desporto.
Não é por acaso que desde 2005 arrecadaram entre eles dez estatuetas de Desportista do Ano nos Laureus World Sports Awards (Federer em 2005, 2006, 2007, 2008 e 2018, Dkokovic em 2012, 2015, 2016 e 2019, Nadal em 2011).
A rivalidade entre eles, no court e nos bastidores, é mais feroz do que o adepto anónimo percebe e a recente luta política pelo controlo do ATP Tour é só a ponta do iceberg, mas em público são exemplares no apreço mútuo (bem como por outros rivais), uma estima que julgo genuína.
Perceberam que alimentar ódios de estimação como houve entre Jimmy Connors e John McEnroe, ou McEnroe e Ivan Lendl podem ser prejudiciais a todos e à modalidade.
Paradoxalmente, esses comportamentos edificantes não impedem que haja entre os fãs uma clubite futebolística.
No Eurosport, de cada vez que transmitimos um confronto entre membros do Big-3, recebemos mensagens nas redes sociais e por e-mail de vincada violência verbal dirigida ao rival do ídolo de cada um.
É normal. O desporto desperta paixões e essa é uma das bases do seu progresso e do seu sucesso económico. A diferença é que no ténis a clubite reduz-se aos fãs e não é alimentada nem exacerbada pelos media, treinadores, dirigentes e demais agentes desportivos.