Uma notícia da Associated Press (AP) sobre as péssimas condições em que vivem as crianças migrantes num centro de detenção sobrelotado, na vila de Clint, em El Paso, no estado do Texas, está a criar polémica nos Estados Unidos. Depois dos protestos e da notícia da agência norte-americana, as autoridades dos EUA foram obrigadas a transferir 249 menores, a grande maioria das crianças mantidas nas instalações.
A política de reforço da fronteira com o México do Presidente dos EUA, Donald Trump, está a criar situações desumanas para os menores. Sendo as instalações de Clint transitórias, a lei norte-americana só permite a manutenção das crianças nestes centros por 72 horas, embora muitas já lá estivessem há várias semanas, o que causou a sobrelotação das celas.
As crianças mantidas no centro de detenção do Texas tinham entre um e 15 anos. De acordo com o conjunto de advogados que foram monitorizar as instalações e que se queixaram à AP, as crianças não tinham as mínimas condições. Não tinham roupa lavada, comida ou água adequada, dormiam no pavimento sem colchão e não lhes eram providenciadas fraldas, escovas de dentes ou sabonetes. Muitas encontravam-se doentes e outras em quarentena devido a uma infestação de piolhos. Além disso, não tinham qualquer supervisionamento de adultos.
A equipa jurídica – em que também se incluíam profissionais de saúde – entrevistou três raparigas detidas nas instalações, que lhes confidenciaram que tentavam cuidar de um rapaz abandonado com as calças urinadas e sem fralda. “Um guarda fronteiriço entrou no nosso quarto com um menino de dois anos e perguntou: ‘Quem quer cuidar deste rapazinho?’ Uma rapariga disse que tomaria conta dele, mas perdeu o interesse depois de algumas horas, por isso cuidámos nós”, relataram os advogados à AP. O abandono era tal que crianças com apenas oito anos cuidavam das colegas de cela mais novas. Dolly Sevier, médica pediatra que foi a Clinton, comparou as instalações a “centros de tortura”, segundo um documento a que a ABC teve acesso.
Depois de todos estes relatos, alguns democratas na Câmara dos Representantes – em conjunto com outros republicanos – querem aprovar um pacote de emergência humanitária para financiar melhores condições, num valor de 4,5 mil milhões de dólares (5,1 mil milhões de euros). A líder da câmara, Nancy Pelosi, defende a urgência da medida, argumentando ser da responsabilidade moral dos americanos defender os direitos humanos.
Mas o partido está dividido em relação ao pacote de financiamento. Alguns democratas, como Alexandria Ocasio-Cortez, temem que a administração Trump utilize esse financiamento para reforçar a política de controlo migratório – tendo já comparado as instalações na fronteira com o México aos campos de concentração nazis. Receando que o dinheiro seja usado para ações repressivas, Ocasio-Cortez defendeu que os democratas não devem dar “nem mais um cêntimo” para o financiamento dos serviços fronteiriços.
Até ao fecho desta edição, não foi possível apurar para onde foram transferidas as 249 crianças, sabendo-se apenas que uma parte dos menores foram deslocados para outras instalações em El Paso. Este caso levou à demissão de John Sanders, comissário da Agência de Controlo Alfandegário e das Fronteiras.