A Tunísia viveu um dia caótico esta quinta-feira. Dois ataques, quase em simultâneo, realizados por bombistas suicidas aterrorizaram Tunes, capital do país. Os atentados ocorreram no centro da cidade e provocaram um morto e oito feridos. No mesmo dia, o Presidente da Tunísia, Béji Essebsi, foi transferido para um hospital militar devido a uma “grave crise de saúde”.
De acordo com o Ministério do Interior, o primeiro bombista suicida fez-se explodir quanto atacou um carro policial que patrulhava a movimentada rua de Charles de Gaulle, a poucos metros da embaixada francesa, causando a morte de um agente. Além disso, outros dois polícias e três civis ficaram feridos. A AFP, que se encontrava no terreno, testemunhou a brutalidade do ataque suicida que deixou o corpo do agente policial desfeito em pedaços. Outra testemunha civil avistou o cadáver do autor do atentado.
“Estava a fazer compras com a minha filha e ouvi uma grande explosão. Vimos o corpo do terrorista no chão perto de um veículo da polícia depois dele se ter feito explodir”, relatou a testemunha à Reuters.
O segundo atentado ocorreu apenas dez minutos depois, num bairro central, o al-Qarjani, no parque de estacionamento da esquadra de El Gorjani, ferindo quatro polícias. A esquadra atacada tem agentes especializados na luta contra o terrorismo e é para lá que, normalmente, são transferidas pessoas suspeitas de pertencerem a células terroristas.
No entanto, um relatório de 2017 da Amnistia Internacional acusa os agentes da esquadra de prenderem e torturarem pessoas sem aparente provas do seu envolvimento nos atentados de 2015. Segundo o El País, parece que a tortura ainda é uma prática comum na El Gorjani.
A última vez que o país do Magrebe sofreu atentados semelhantes foi em 2015, reivindicados pelo Estado Islâmico, quando dois ataques com cinco meses de distância, mataram quase uma centena de pessoas, deixando o país numa situação vulnerável, já que os ataques afugentaram os turistas. Os preços da hotelaria desceram então drasticamente, os turistas voaram para outras paragens e o país perdeu uma das suas principais fontes de rendimento.
Recorde-se que a Tunísia foi o único país da Primavera Árabe que não caiu em guerra civil ou numa ditadura militar. Apesar dos ataques de hoje, este tipo de atentados passaram a ser raros depois de 2015, especialmente na capital, segundo enalteceu um jornalista local à Al Jazeera. A acalmia que se vivia foi agora quebrada, apesar de um tribunal tunisino ter aplicado a pena perpétua em fevereiro a sete jiadistas que participaram nos ataques de há quatro anos.
A crise no país do Norte de África agudizou-se também com o internamento de Essebsi. O anúncio foi feito através um comunicado da presidência, pouco tempo depois dos atentados de ontem. O chefe de Estado de 92 anos, aparenta estar em estado crítico. Na semana passada, o conselheiro do Presidente disse que Essebsi sofria de um ligeiro “desconforto” e que, por isso, encontrava-se a fazer exames médicos de rotina.
Embora as autoridades tunisinas ainda não o admitam, o estado de saúde do chefe de Estado parece ter-se agravado seriamente. Essebsi foi o primeiro Presidente eleito democraticamente, em 2014. Essebsi substitui Ben Ali, o ditador que mandou no país mais de duas décadas e que foi deposto durante a Primavera Árabe.
A Tunísia vive um momento de aperto num ano em que é suposto encerrar a transição democrática, pois 2019 trará as eleições legislativas e presidenciais. E a ida às urna para eleger os deputados do Parlamento serão daqui a um mês.