A Associação de Futebol de Lisboa (AFL) e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) estão em guerra devido aos seguros desportivos. Depois de a seguradora que trabalha para a FPF (a AON) ter informado as direções dos clubes de Lisboa que tem condições mais atrativas do que o concorrente (a SABSEG) que trabalha com a AFL, esta associação insurgiu-se, garantindo que estão em causa «interesses», dos quais alguém vai sair beneficiado. Uma das ligações entre a Federação Portuguesa de Futebol e a seguradora AON é o social-democrata José Luís Arnaut, que além de presidente da Mesa da Assembleia Geral da FPF é membro do Conselho Consultivo da AON.
Num comunicado emitido pela direção da Associação de Futebol de Lisboa, liderada pelo também social-democrata Nuno Lobo (antigo chefe de gabinete de Fernando Seara na Câmara de Sintra), é referido que esta «não se verga perante os interesses económicos instalados no futebol português, nem tão pouco se deixa intimidar por aqueles que, à força e coagindo, pretendem fazer-se valer dos seus cargos desportivos para terem benefícios económicos pessoais». E acrescenta: «Jamais!»
Ao SOL, José Luís Arnaut reagiu, dizendo que as acusações são «um disparate absoluto». «Não tenho funções executivas nem num lado nem noutro. E não influencio direções da federação», acrescentou.
Por outro lado, Nuno Lobo também tem ligações ao setor dos seguros, sendo vice-presidente da Assembleia Geral da Caravela Seguros, que tem relações com a SABSEG. Ainda assim, ao jornal A Bola, Nuno Lobo descarta qualquer conflito: «A SABSEG não tem qualquer representação social na Caravela Seguros. Isso é fácil de consultar. Nunca ganhei um euro nesse cargo que desempenho por convite de uma empresa que o escritório de advogados a que pertenço representa há muitos anos e, naturalmente, nunca a Caravela Seguros fará uma parceira com a Associação de Futebol de Lisboa enquanto eu for presidente».
Segundo o jornal desportivo, estão em causa estão milhões de euros, dado que todos os clubes têm de ter os seus atletas de todos os escalões segurados.
Apesar das graves acusações, tornadas públicas num comunicado disponível no site da AFL, a Procuradoria-Geral da República, contactada pelo SOL, não disse se vai ou não dar início a um inquérito para apurar eventuais responsabilidades criminais.
Questionada sobre as suspeitas levantadas pela AFL, a Federação também não enviou qualquer resposta. Do lado da Associação de Futebol de Lisboa, Nuno Lobo disse não querer fazer mais nenhum comentário, remetendo qualquer esclarecimento para o comunicado da direção.
Como funcionam Estes seguros
A Federação Portuguesa de Futebol trabalha com a empresa AON, que segura os jogadores da Seleção Nacional e que pretende alargar os seus serviços aos clubes que fazem parte da Associação de Futebol de Lisboa. Não estando a conseguir um acordo de parceria com esta associação e sabendo que os clubes não são obrigados a escolher as companhias parceiras das associações, a AON decidiu pular e apresentar o seu preçário diretamente aos clubes. Nessa carta refere a empresa que tem um desconto global de 10%: «Para a próxima época (2019/2020), tentámos novamente apresentar a nossa proposta à AF Lisboa, sem sucesso. Uma vez que o Seguro Desportivo pode ser contratado pela Direção do Clube a qualquer seguradora, tomamos a liberdade de vos apresentar diretamente a nossa melhor proposta, em anexo. A proposta da AON tem um desconto global de 10% sobre a tabela de prémios em vigor na AF Lisboa (época 2018/2019)».
A AON acrescenta ainda que a sua proposta «representa mais-valias significativas para a Associação de Futebol de Lisboa e mais poupança para os respetivos clubes e atletas». De acordo com o diário desportivo, até à entrada desta empresa no mercado, a SABSEG conseguia dominar o mercado, tendo parcerias com a FPF e com as 22 associações distritais. Hoje a AON trabalha para 12 das associações e para a FPF.
As acusações da AFL à Federação
Segundo a direção da Associação de Futebol de Lisboa, o envio da informação para os clubes seus filiados foi feito com «a total colaboração e conivência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e, designadamente, de alguns dos seus dirigentes».
As acusações vão mais longe, com a AFL a dizer que nunca se deixará capturar: «Ao contrário do que muitos pretendem, a Associação de Futebol de Lisboa nunca será comandada pela Federação Portuguesa de Futebol e por 1 (uma) qualquer empresa privada, seja de seguros desportivos, seja de qualquer outra natureza».
Fazendo referência a outros tempos, a direção da associação diz mesmo que «os tempos da coação, da ameaça, da repressão, da tirania e da intimidação já deram os seus frutos no futebol português». «Noutros tempos, noutras circunstâncias e com outros atores. Hoje, não! Na Associação de Futebol de Lisboa, não!», sublinha o comunicado.
Deixando claro que foram renovadas as parcerias com as seguradoras SABSEG e com a AIG para os seguros da próxima época, a direção da AFL rejeita que as condições da AON sejam melhores: «Os preços dos seguros desportivos, referentes à época desportiva de 2019/2020, são financeiramente muito melhores do que aqueles que são praticados e apresentados pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e pela empresa AON».
A Associação de Futebol de Lisboa termina a missiva garantindo que tudo fará «em prol e no benefício daqueles que são os verdadeiros destinatários do trabalho desta Direção»: «Os Clubes Filiados!».