A Rússia aumentou o secretismo sobre o incêndio no submarino militar que matou 14 marinheiros. O Kremlin limitou-se a dizer que o submarino se encontrava a fazer uma pesquisa científica em águas profundas e não deu mais informações, alegando “segredo de Estado”.
O Ministério da Defesa russo demorou a confirmar o incidente, que ocorreu na segunda-feira, mas acabou por ter de dar uma pequena satisfação sobre o acidente.
O Kremlin disse que a morte dos marinheiros resultou da inalação de fumo tóxico durante o incêndio. Não foi, no entanto, confirmado se se tratava de uma embarcação nuclear – existem dúvidas sobre uma possível fuga radioativa -, qual o nome do submarino, qual o objetivo da missão, quantos tripulantes tinha a embarcação, os nomes dos marinheiros que morreram.
O porta-voz de Vladimir Putin, Presidente da Federação Russa, Dimitry Peskov, defendeu que os pormenores sobre o acidente eram “totalmente confidenciais”.
“Não há nada de ilegal sobre isto. Corresponde completamente à lei russa sobre os segredos de Estado”, completou Peskov numa conferência de imprensa.
As autoridades russas acrescentaram que o submarino encontra-se de momento na base militar da cidade de Severomosk. Putin fez questão de dizer que dois dos marinheiros que morreram eram heróis russos e que sete eram capitães seniores.
Vários meios de comunicação na Rússia, citando fontes militares, reportam que se tratava de um pequeno submarino nuclear com o nome de AS-12 Losharik.
A Novaya Gazeta, jornal russo, descreve o submarino como fazendo parte da “elite da marinha russa”. Uma outra publicação local, de acordo com o The Independent, especifica ainda que a embarcação pertencia a uma das unidades militares mais secretas do aparato militar russo.
Na verdade, pouco se sabe sobre o Losharik, o navio que tem sido referido pela imprensa. Sabe-se apenas que o nome é uma alusão a uma personagem de cartoon soviética e o submarino foi lançado em 2003 para pesquisa, salvamento e operações militares.
Ainda que o Kremlin recuse partilhar informações sobre o submarino acidentado, bem como sobre o que terá motivado o incêndio, a Autoridade de Proteção Radioativa norueguesa (NPRA) disse à AFP que “houve uma explosão de gás, confirmada pelas autoridades russas”, adiantou Per Strand, diretor da NPRA. Recorde-se que a Noruega partilha território marítimo no Mar de Barents com a Rússia.
“Estamos à espera de informação do lado russo sobre se havia um reator [nuclear] no submarino”, disse a mesma fonte, acrescentando que a NPRA não notou um aumento nos níveis de radiação na zona.
Apesar das afirmações oficiais da autoridade norueguesa, o ministro da Defesa da Rússia negou qualquer partilha de informação: “Não houve qualquer tipo de notificação enviada ao lado norueguês”, vincou.
Têm sido muitas as vozes críticas à opacidade com que Moscovo tem lidado com o caso. Yevgeny Buntman, apresentador de uma estação de rádio russa, é um desses casos: “Não se sabe absolutamente nada neste momento”, afirma, questionando: “Porque é que não sabemos os nomes de quem morreu? Isto é normal?”, reforçou Buntman em declarações à Reuters.
A presença de vários oficiais de alta patente, como confirmada pelo próprio Putin, pode sugerir que os marinheiros não participavam numa mera investigação científica. Um especialista militar, ouvido pela AFP, disse não fazer sentido a informação dada pelos russos, de que se tratava de uma pesquisa científica ao ambiente natural do fundo do mar.
“Normalmente é uma cobertura para outro tipo de trabalho realizado no fundo do mar, como a colocação de cabos” para espiar comunicações estrangeiras, confidenciou sob anonimato.
Este acidente fez os russos recordar a tragédia de um submarino com mísseis estratégicos – e reatores nucleares – em 2000, o Kursk. Na altura, a embarcação afundou porque o torpedo, um míssil que opera debaixo de água, explodiu durante um teste de lançamento e acabou por afundar, causando a morte de 118 marinheiros.
O afundamento do Kursk foi uma das maiores tragédias para a marinha russa desde o colapso da União Soviética – até por inexistir uma equipa de resgate disponível para salvar os tripulantes do submarino. Putin estava então nos primórdios da sua presidência.
Nesse ano, o Presidente encontrava-se de férias e não percebeu a gravidade da situação, e acabou por não cancelar os seus dias de descanso. Desta vez, não estava de férias, mas para não repetir o erro, cancelou todos os compromissos.