O líder do Nova Democracia, o conservador Kyriakos Mitsotakis, tomou posse ontem como primeiro-ministro grego, num estilo que não podia ser mais diferente do seu antecessor, Alexis Tsipras, que conseguiu apenas 31,5% dos votos contra os 39,8% do Nova Democracia, numa eleição com uma taxa de abstenção de 43% – uma das mais altas em décadas. Enquanto o líder do Syriza quebrou a tradição, tomando posse numa cerimónia civil, Mitsotakis jurou com a mão sobre a bíblia cumprir os seus deveres, perante o líder da Igreja Ortodoxa grega, o arcebispo Ieronymos.
Contudo, à semelhança do seu antecessor, Mitsotakis chega ao poder com a promessa de renegociar com os credores da dívida grega, que neste momento obrigam o país a ter um excedente orçamental de 3,5% do PIB até 2022 – tornando quase impossíveis as reformas pretendidas pelo novo primeiro-ministro. Logo no dia da tomada de posse de Mitsotakis, o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, pediu responsabilidade orçamental ao novo Executivo grego. Centeno referiu-se à crise da dívida soberana grega como “mais traumática de todas as experiências vividas na Europa nos últimos anos”, reforçando “a importância de ter um processo de política económica, em particular de política orçamental, credível”.
Face aos avisos, fica por saber se os credores gregos estarão dispostos a negociar com o novo primeiro-ministro grego, ou se serão tão duros como foram com o líder do Syriza – que foi eleito com um programa de investimento público e acabou forçado a aplicar um dos mais duros programas de austeridade. Na sua aceitação da derrota eleitoral, Tsipras lembrou: “Para trazer a Grécia onde está hoje, tivemos de tomar decisões difíceis, com um custo político pesado”.
Na noite eleitoral, após serem revelados os resultados, Mitsotakis assegurou que a Grécia “levanta orgulhosamente a cabeça outra vez”, prometendo manter a unidade do país. No que toca a enfrentar os credores, tem do seu lado o facto de ter uma política económica em linha com a maioria dos organismos internacionais. Promete fazer “arrancar” o crescimento económico através de uma diminuição dos impostos e uma nova onda de privatizações, que aumente o “investimento privado, exportações e inovação”, afirmou à AFP.
No entanto, na arena interna, Mitsotakis tem contra si a memória da reforma administrativa de 2014, em que o conservador eliminou os postos de trabalho de 15 mil funcionários públicos, sob pressão de Bruxelas. “Quando [Mitsotakis] diz reformas… implica sangue humano… ele despediu pessoalmente milhares”, disse Tsipras à CNN durante a campanha.