O marroquino suspeito de crimes de recrutar jovens em Portugal para o Estado Islâmico foi ontem condenado a 12 anos de prisão pelos crimes de recrutamento para o terrorismo, financiamento do terrorismo e falsificação de documentos – cartão de crédito e passaporte. O arguido Abdesselam Tazi, que o juiz Ivo Rosa decidiu que não deveria ser julgado por crimes de terrorismo – decisão depois revertida pela Relação de Lisboa – ouviu ontem palavras duras do juiz Francisco Henriques: “Sei que é um homem religioso. Eu também sou. Espero que o seu deus lhe perdoe. O senhor saiu de Marrocos, veio para a Europa, aproveitando-se das fragilidades do sistema para quê? Para convencer uns miúdos a viajar para a Síria.”
Ainda segundo a Sábado, o magistrado terá concluído: “Espero que o seu deus lhe perdoe, porque o tribunal não o perdoa”.
Referido em investigações francesas e alemãs
Abdesselam Tazi, que está preso desde o início de 2017 na prisão do Monsanto, foi acusado em Portugal dos crimes de adesão a organização terrorista internacional, falsificação com vista ao terrorismo, uso de documento falso com vista ao financiamento do terrorismo, recrutamento para terrorismo e financiamento para terrorismo.
Mais tarde, na fase de instrução, o juiz Ivo Rosa decidiu ilibar o marroquino de crimes de terrorismo, considerando que apenas deveria seguir para julgamento por um crime de falsificação de documentos e quatro crimes de contrafação de moeda. Na despacho de pronúncia justificava-se: “É descrita a função e o papel do arguido, os contactos que manteve com outras pessoas com vista à alegada adesão ao Estado Islâmico, os locais onde exerceu esses contactos, os documentos de identificação que utilizou, as viagens que realizou, os cartões de crédito que utilizou”.
O juiz Ivo Rosa entendia que “questão diferente, é saber se os autos contêm os elementos de prova suficientes para sustentar a submissão daquele a julgamento pelos crimes imputados na acusação”.
Mas em dezembro do ano passado, a Relação de Lisboa mostrou a sua perplexidade quanto à fundamentação utilizada pelo magistrado Ivo Rosa – que tem em mãos a instrução da Operação Marquês – para não levar a julgamento Abdesselam Tazi por crimes de terrorismo. Até porque o marroquino, que chegou a Lisboa em 2013, é citado em investigações que correm França e Alemanha.
Tazi, um sedutor
Para o Ministério Público, Tazi foi o responsável pela radicalização de Hicham El Hanafi. Ambos viviam num quarto alugado por uma mulher, em Aveiro, e eram tratados por outros nomes (Salim e Xan). A proprietária descreveu-os como pessoas que falavam muito em Alá, que gostavam de Portugal e de jogar à bola e ao pião – cada um tinha o seu.
“Toda a gente diz que o comportamento do Hicham mudou com a convivência com Tazi, homem mais experiente, mais velho e com capacidade de sedução”, frisou o procurador João Melo no debate instrutório que aconteceu no ano passado, afirmando que o arguido “estuda os personagens e os momentos próprios e sabe construir o seu discurso de forma a seduzir.” Além disso, o magistrado elencou várias mentiras de Tazi e o facto de ter falsificado os seus documentos: “Não fez outra coisa desde que chegou à Europa senão mentir.”