A mononucleose infecciosa é uma doença provocada pelo vírus Epstein-Barr. Os sintomas passam pela fadiga, febre, faringite e podem persistir durante semanas ou até meses. Por vezes, dá-se a obstrução das vias respiratórias e até problemas neurológicos. O que é que isto tem que ver com música? Neste caso, tudo. Justin Vernon, hoje com 38 anos, mudou-se para Dunn County, no Wisconsin, quando padecia desta enfermidade, em 2006. De cama em casa do pai, percebeu que Bon Iver poderia ser o nome ideal para a banda que já havia criado: enquanto via a série ‘Northern Exposure’, cidadãos do Alaska desejaram que aquele fosse um “bom hiver” (em francês, bom inverno) na região e o artista decidiu que “Boniverre” seria capaz de resultar. Bom, talvez não, porque lhe fazia recordar a palavra liver (em inglês, fígado).
Assim, na cidade tipicamente universitária de Eau Claire, o licenciado em Estudos Religiosos com um minor em Estudos das Mulheres colocou de parte as bandas Mount Vernon e DeYarmond Edison e avançou para uma nova sonoridade. Desde o lançamento de ‘For Emma, Forever Ago’, em julho de há doze anos, Vernon apresentou-se como uma voz de destaque no universo do indie rock e demonstrou ser perito em composições complexas e letras que são capazes de nos transportar até ao universo inventivo da banda.
Há oito anos, o álbum homónimo do grupo constituiu uma mudança de paradigma. Principalmente, para Vernon, que à época admitiu ter contratado profissionais como o saxofonista Colin Stetson ou o guitarrista Greg Leisz para mudarem a sua voz: “Não a minha forma de cantar, mas sim o meu papel enquanto fundador deste projeto” referiu. E bem, na medida em que, no ano seguinte, os Bon Iver arrecadaram dois Grammy Awards: o de Melhor Álbum Alternativo e o de Melhor Artista Novo, em 2012.
‘22, A Million’, de 2016 e ‘I, I’, deste ano, acabam por ser as grandes inovações dos norte-americanos em termos da incorporação de elementos de música eletrónica e de hip-hop nas faixas, bem como na utilização de efeitos e outros instrumentos. Sublinhe-se que a profundidade emotiva aliada ao minimalismo continuam presentes, andando sempre de mãos dadas com os ritmos folclore, até porque a noção de arte nunca foi desprezada mas sim cada vez mais aclamada.
“I'm tearing up, across your face / Move dust through the light” sem qualquer tipo de cumprimento, os Bon Iver tomaram de assalto o palco principal do NOS Alive com ‘Perth’, a canção que Vernon explicou ter sido fortemente inspirada no ator australiano Heath Ledger, seu amigo. Com músicas como ‘Towers’ – baseada no dormitório constituído pelas torres norte e sul onde o vocalista viveu durante a universidade, tempo em que se apercebeu de que tal como os edifícios, também ele tinha construído a relação com a companheira e, mesmo após o término da mesma, restavam recordações: um paralelismo arrevesado, sem dúvida – ou ‘Heavenly Father’ – um monólogo que um homem desenvolve relativamente aos sentimentos que nutre por Deus, questionando se este o brindará com segurança após o fim de um namoro –, foi lançado o mote para os momentos-chave da noite.
Mal soaram os primeiros acordes de ‘Skinny Love’, a plateia ergueu os telemóveis para celebrar os resquícios de um amor que se desvanece, porém, existe a esperança de colocar sal sobre as cicatrizes abertas causadas pelo mesmo e esperar que resista às adversidades. Afinal, pediram-nos que fôssemos pacientes, simpáticos e equilibrados e, dois anos depois, regressaram a solo lusitano. De seguida, diversas fases do crescimento foram recordadas em ‘Holocene’ e lágrimas pesadas já escorriam pelos rostos de vários fãs.
“It might be over soon, soon, soon / Where you gonna look for confirmation?” e, de facto, foi mesmo necessário ter uma confirmação do final de um concerto aconchegante e misterioso como só os Bon Iver poderiam ter oferecido.