Vindo de Princeton, Varoufakis deu uma entrevista ao El Mundo e nela disse, com a clareza toda, que Tsipras era um mentiroso e a História o ignoraria.
Foi uma pena ser tão tarde.
Aqueles que, no início, simbolizaram as almas gémeas do desespero da esquerda grega e o desafio romperam há muito tempo os laços.
Pelo caminho ficaram uma opção que a Europa não comprou, uma Grécia de mal a pior, um sacrifício monstro para o pobre povo grego.
Depois, a quebra de todas as regras.
A esquerda, agora tão preocupada com o avanço da extrema direita, deu a sua bênção a a um governo que a integrou. Em termos tais que, enquanto a esquerda chefiava o Governo, o representante da outra força recebia a pasta da Defesa.
Logo a seguir, a Europa deu a mão, perdoou muito, fez vista grossa porque percebeu que muitos outros interesses nacionais seriam arrastados.
Varoufakis regressou à sua bem amada América.
Tsipras ficou sozinho.
Num ápice, a Nova Democracia começou a invetivá-lo porque cortava nas pensões e nos salários, porque ia além da troika.
Apagou-se a lanterna de Diógenes.
Mais perto, em Espanha, outra formação de origem equivalente quase reduzia a cinzas o PSOE. Mas as loucuras e as divisões da direita recompuseram a necessidade de um partido socialista forte.
Não chegou.
Podemos ou não podemos ir para o Governo, pergunta com exigência e ânsia o Unidos.
E o senhor Sanchez, descobre uma oportunidade, recusa, adia.
Sabe que terá tudo a ganhar em eleições próximas. Espera que até ele venha o centro.
Por aqui, o Partido Socialista empata.
A incursão europeia foi um falhanço completo. Não refez equilíbrios.
Volta-se para dentro.
Ouve, com paciência evangélica, as listas de sucessos da esquerda que o apoia e agradece os ataques que na outra metade do discurso essa mesma esquerda lhe dirige.
Aprendeu muito nos últimos tempos.
Em bom rigor não discute o futuro, não projeta, não ambiciona.
Vive do que há.
E sempre que a discussão quer ganhar outra profundidade, basta-lhe revisitar o passado, agitar os medos, recordar as pequenas recompensas e recuperações.
O drama do país é que não se mostra capaz de discutir nada de essencial nem esse essencial se projeta.
Os grandes temas que poderiam melhorar a economia, ultrapassar a deficiente resposta do Estado, oferecer mais e melhores empregos morrem na armadilha ideológica.
Falta pessoal qualificado, abre-se um concurso.
Faltam barcos, abre-se um concurso.
Faltam locomotivas e carruagens, abre-se um concurso.
Faltam habitações, abrem-se muitos mais.
E como os concursos demoram, em regra, muitos anos para se atingir o resultado e como a formação e a construção se desdobram em anos e como o pagamento se irá arrastar, algum dia teremos o que é preciso.
A pouco e pouco, a conta-gotas, com a prudência necessária para não estragar o que foi conseguido.
A cativação que nos traz cativos.
E bem podem as oposições manifestar a sua insatisfação. O que é para o cidadão comum crescer mais? O que é reduzir o IRC?
Portugal progride. Tem mais trotinetas, mais carrinhos, mais tuc-tucs, mais Uber Eats. Mais qualificados, portanto.
Para todos os efeitos, já vemos a luz ao fundo do túnel.
Pobres de nós, é no túnel que estamos.