Ninguém tinha dúvidas de que a final deste ano de Wimbledon seria um jogo duríssimo entre os que serão, sem muita discussão, os dois melhores jogadores mundiais da atualidade. Depois da espetacular eliminação de Nadal nas meias-finais, o suíço pareceu chegar ao jogo decisivo do Tennis and Crocket London Club como favorito para obter mais um título a juntar às dezenas que tem somado em todos estes anos ao mais alto nível. Por isso, também teremos estado perante uma das mais esperadas finais de todos os tempos e isto não é, certamente, exagero. Mas a vitória coube a Djokovic, segunda consecutiva no torneio londrino, com os parciais de 7-6, 1-6, 7-6, 4-6 e 12-12 (7-3) neste novo sistema decisivo inaugurado esta época.
O equilíbrio não foi a única nota dominante. A disputa entre Federer e Djokovic atingiu momentos de qualidade ímpar. Set a set, lance a lance, segundo a segundo. Ao fim de três horas e meia de jogo, ainda tudo estava em aberto na quinta e decisiva partida da final de Wimbledon do ano da graça de 2019.
Por muito que se valorizem todos os torneios do Grand Slam, Wimbledon será sempre único. A vitória de um tenista em Wimbledon é como se lhe fosse atribuída a Ordem do Império Britânico. E, nesse aspeto, as oito vitórias de Federer no torneio de Londres dão-lhe uma aura de nobreza que não muitos atingem. Djokovic, por exemplo, a despeito de se ter apresentado como campeão em título, tem metade desse palmarés.
Não haverá alma desiludida depois de ter assistido ao grande episódio de Wimbledon. Ganhou Novak Djokovic como podia ter ganho Federer. Momentos de magia pura puderam desenrolar-se sobre a relva histórica desse court que alberga a mitologia de todo um desporto. Ao estilo mais poderoso de Djokovic, o suíço respondeu com a frieza própria das neves eternas do Watterhorn. Há nele aquela tremenda capacidade de fazer embalar os adversários, da esquerda para a direita, antes de lhes aplicar, como um lâmina, o golpe fatal que entra no meio da terceira e da quarta costelas.
Djokovic passou por momentos muito, mesmo muito complicados, mas teve um toque de superioridade física que, no final, fez a diferença. Depois da raquetada final, ajoelhou-se e, como de costume, comeu um pouco da relva do recinto. “Foi um daqueles jogos inesquecíveis que eu gostava de esquecer”, diria Federer, com humor, na altura de receber o prémio. Já Djokovic não perdeu a hipótese de elogiar o adversário: “Roger gosta de dizer que continuar no topo aos 36 anos pode servir de exemplo para muitos tenistas depois dele. Não precisa de ir longe. Estou aqui eu para seguir o exemplo deste tenista extraordinário”.
Femininos
Entretanto, na final feminina do torneio, pode dizer-se que houve uma surpresa. A romena Simona Halep, neste momento sétima do ranking, bateu Serena Williams, décima, por 6-2 e 6-2, bastando-lhe para tal 57 minutos de jogo. Simona, que já foi número 1 do ranking, conquistou, desta forma, o seu segundo torneio do Grand Slam da sua carreira, depois da vitória em Roland Garros no ano passado. Décimo primeiro encontro entre as duas tenistas e somente o segundo triunfo para a romena: “Nunca me senti muito à vontade frente a Serena”, confessou Halep no final. “Parece que sentia uma espécie de inferioridade, ou de medo. Felizmente, passou”. E passou no momento mais certo.