Para alguns pode já ser uma tarefa árdua tentarem lembrar-se do que andariam a fazer durante os seus 15 anos. Nos dias de hoje podemos supor alguns cenários: alguns jovens começam a pedir autorização aos pais para a sua primeira saída à noite; outros tantos, indecisos, procuram os famosos testes psicotécnicos para tentarem perceber as suas aptidões e capacidades para fazer a escolha mais acertada sobre que área deverão seguir; há, ainda, os que procuram os primeiros trabalhos sazonais. Entre, claro, outras tantas opções. Pois bem, este é daqueles casos que está longe de ficar enquadrado em algum desses grupos. Cori Gauff tem 15 anos e é tenista. Até aqui não há nada de propriamente invulgar, não fosse a norte-americana a mais recente figura sensação da modalidade. Coco, como é carinhosamente apelidada, começou a dar nas vistas durante o qualifying do Grand Slam britânico, fase que conseguiu ultrapassar apurando-se para o quadro principal. Antes disso, uma curiosidade: é que, em boa verdade, nem a própria tenista acreditaria que fosse possível estar a viver este conto de fadas tão jovem. Prova disso é que a norte-americana tinha um teste de ciências marcado para a semana da qualificação do Major, em que acabou por ter acesso após ser premiada com um wild card por parte da organização. Como tal, Cori Gauff pediu ao professor para realizar o exame online, precisamente na véspera da última ronda do qualifying. O resultado do exame ainda não se sabe, mas o resto da história é bem conhecido: venceu a terceira e última ronda da qualificação e fez história ao tornar-se na tenista mais jovem de sempre a ultrapassar a fase de qualificação do torneio britânico na era Open (desde 1968).
Pouco depois, novo feito assinalável por parte da norte-americana, que eliminou na primeira ronda a sua compatriota Venus Williams – aqui, Coco, passou a ser a mais jovem jogadora a vencer um encontro em Grand Slams desde 1996, quando a russa Anna Kournikova venceu no Open dos Estados Unidos. «Não tenho palavras para descrever o que sinto. É a primeira vez que choro depois de ganhar um jogo. A Venus disse-me para continuar assim. Eu agradeci-lhe por tudo que fez por mim. Não estaria aqui se não fosse por ela. A Venus inspirou-me e sempre lhe quis dizer isto, mas nunca tinha sido capaz de fazê-lo», confessou a adolescente após bater, por duplo 6-4, Venus Williams, vencedora de sete Grand Slams, cinco deles… em Wimbledon. Em jeito de comparação, e para se ter uma ideia da dimensão da conquista da norte-americana, no circuito feminino, Serena Williams conquistou o seu primeiro triunfo num Grand Slam com 16 anos, no Open da Austrália (1998). O mesmo aconteceu com a sua irmã Venus, que venceu, também com 16 anos, a sua primeira partida num major em Roland Garros.
Foi, por isso, nesta altura que os holofotes se viraram em definitivo para a tenista de 15 anos. Mas nem a pressão a impediu de seguir em frente, até aos oitavos de final. Durante a semana, o sonho de Cori Gauff chegou ao fim, depois de a norte-americana não ter resistido à tenista romena Simona Halep (7.ª no ranking WTA e antiga número 1 mundial). Uma coisa é certa: Atualmente 313.ª do mundo, Coco sabe que vai subir cerca de 170 posições na hierarquia, que será atualizada na segunda-feira. Para casa levou ainda um prémio de 200 mil euros por ter alcançado os oitavos-de-final. Antes de chegar a Wimbledon, Cori Gauff já tinha dado que falar depois de se ter tornado, aos 13 anos, na finalista mais jovem de sempre do US Open de juniores. Ainda antes, com apenas 12, foi a vencedora do Junior Orange Bowl, o maior torneio infantil nos Estados Unidos. Já no ano passado sagrou-se campeã de juniores de Roland Garros. Wimbledon acredita ainda assim que viu nascer uma estrela, ainda que Cori Gauff tenha assinado o seu primeiro contrato profissional com a Nike com apenas 10 anos. Hoje tem patrocínios que lhe rendem cerca de um milhão de euros por ano, sendo, de resto, agenciada pela Team8, a empresa que tem Roger Federer com um dos sócios e que gere a carreira de atletas de novos talentos.
Os elogios à jovem são incontáveis, mas, entre eles, destacam-se alguns. Caso de Serena Williams, que garantiu que naquela idade estava longe do nível praticado por Coco. «Eu com 15 anos não era nada assim. Nada calma, nem elegante. Nem jogava tão bem como ela. Com a idade dela, eu passava o dia a ver desenhos animados, jamais tinha aquele nível e maturidade», garantiu. Já o ex-tenista John McEnroe foi mais longe, deixando uma previsão ambiciosa: «Ela nasceu para vencer e isto é só o início. Olha para a forma de ela jogar. E arrisco-me a dizer uma coisa: se ela não for a número 1 do mundo com 20 anos vou ficar profundamente chocado. Ela não é só forte fisicamente. Também é mentalmente».
O futuro próximo de Cori Gauff passa por tomar decisões importantes já que até atingir 16 anos, em março de 2020, só poderá participar em mais sete torneios.