Há novos desenvolvimentos no mistério dos enjoos nos novos aviões da TAP: a Airbus admitiu falhas nos aparelhos vendidos à companhia aérea portuguesa. O sindicato do pessoal da aviação civil continua preocupado com os tripulantes da companhia aérea e deverá reunir-se hoje com representantes da empresa para exigir soluções para o problema. A companhia de aviação garante que a qualidade do ar a bordo continua dentro dos níveis recomendados.
Ao i, Luciana Passo, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), disse que continua “preocupada” com a situação dos tripulantes da TAP.
E vai mais longe: “Em relação a condições de trabalho para os tripulantes de cabine como é que ficamos? À espera de resultados que podem ser divulgados daqui a um dia, um mês ou um ano? Ou vamos ter que falar transparentemente para resolver isto, mitigar situações e criar ações imediatas para resolver os problemas? Não sei como isso seria feito, não sou engenheira aeronáutica, mas alguma coisa tem de ser feita”, afirmou a responsável.
Luciana Passo revelou ao i que o sindicato deverá reunir-se hoje com representantes da TAP para perceber o que pode ser feito. “Já pedimos uma reunião à TAP. Em princípio, haverá amanhã [esta terça-feira] um encontro. Acredito que esta não é uma situação fácil para a TAP, mas também não é para nós. E é com grande tristeza e preocupação que lemos esta explicação por parte da Airbus”, referiu a responsável, frisando que continuam a surgir casos de indisposições: “ainda na semana passada soubemos de mais um caso”.
“Afinal, o problema para o qual alertámos a TAP não era assim tão descabido, como numa primeira fase poderiam fazer crer”, atira a presidente do sindicato.
Numa carta enviada à TAP no dia 7 de junho, cerca de 15 dias antes de as notícias sobre as indisposições serem publicadas, a Airbus reconheceu a existência de falhas técnicas nos novos A330neo. “Durante a fase de testes de voo, identificámos que o arranque do motor poderia gerar odores na cabina”, explica a Airbus. Na carta, citada pelo Diário de Notícias, o fabricante acrescenta que, numa utilização contínua superior a cem segundos, “algumas gotas de óleo poderiam ser libertadas no compressor de alta pressão”. É este problema que estará a provocar o “cheiro a óleo durante a fase de táxi, descolagem e subida”.
A Airbus identificou ainda outro problema: “Durante as primeiras fases de serviço, o sistema de ar condicionado foi identificado como outra fonte de odores”. Mas na carta, a empresa garante que este problema já foi resolvido.
Apesar de terem sido detetados estes problemas técnicos, o fabricante garante que “não há uma correlação” entre “os cheiros pouco comuns e sintomas de desconforto”.
Dores de cabeça e vómitos
Tal como o i noticiou no final de junho, desde fevereiro que vários tripulantes e passageiros se queixam de má disposição, enjoos e vómitos. Fonte da TAP disse na altura ao i que alguns funcionários já tinham medo de fazer estas viagens de longo curso: “Há pessoas que já vão voar com medo. Há quem diga que até pode afetar a capacidade mental. Os supervisores dizem para estarmos atentos aos sinais. Se sentirmos um cheiro a queimado ou mais intenso, devemos avisar logo”.
Nessa mesma altura, a companhia aérea admitiu, em comunicado, que podem ter sido “detetados alguns odores provenientes do equipamento de ar condicionado”, explicando que este “é um fato considerado normal em aeronaves novas e que desaparece logo após as primeiras utilizações”, acrescentando que “todas as análises feitas pela Airbus com o apoio de laboratórios independentes indicam que os parâmetros de qualidade do ar estão dentro do normal na indústria”, acrescentou a companhia aérea.
TAP desvalorizou carta
A companhia aérea explicou que, de facto, recebeu uma carta da Airbus a 7 de junho, mas que esta não acrescentava “nada de novo”, disse em comunicado.
“Destacamos a conclusão da Airbus, comunicada no passado dia 11 de julho, relativa aos factos por ela enunciados na carta à TAP de 7 de junho, hoje profusamente citada na comunicação social e que, numa leitura contextualizada, não acrescenta nada de novo”, refere.
No comunicado, a TAP optou por não citar a parte da carta que, segundo o DN, menciona os problemas técnicos, destacando apenas a parte em que a Airbus refere que “após uma análise minuciosa, é possível demonstrar que a qualidade do ar nas cabines não apresenta quaisquer riscos para a saúde”.
A companhia aérea frisa que todos os testes e análises feitas até ao momento mostram que “a qualidade do ar a bordo dos A330-900neo está dentro de todos os limites recomendados” e que “Não é possível estabelecer qualquer correlação entre a ocorrência de odores e os episódios de indisposição relatados”.
“Não obstante, a TAP continuará a desenvolver todos os esforços em plena articulação com os fabricantes, Airbus e Rolls Royce, no sentido de garantir a todos, passageiros e tripulantes, os mais elevados padrões de conforto e segurança a bordo dos seus aviões”, conclui.