Poderes intermédios e sem rosto

«Preocupo-me com a tourada, porque é uma questão de liberdade».

Existem opiniões, convicções, perceções, dúvidas, desafios e medos que as pessoas, cada vez mais, têm receio de partilhar no espaço público, em razão da espiral de perseguições, vinganças, ajustes de contas e traições a que podem dar origem.

Refiro-me, sobretudo, ao número cada vez maior de pessoas que se vão alistando no exército anónimo dos que se alheiam deliberadamente da vida pública, associativa, cívica e de intervenção (mesmo que só voluntária), desiludidos e temerosos com os poderes sem rosto, com o poder dos intermédios, com o poder e a força dos novos media. 

Em ‘petit comité’, a perda de vontade, de inspiração, de interesse pela dedicação a várias causas e pela coisa pública faz-se acompanhar de muitos exemplos dos poderes sem rosto, que são muitos. 

É uma pequena empresa que fica suspensa de uma decisão numa autarquia local durante seis meses, que obriga a ter de ultrapassar o bloqueio e os poderes intermédios da mesma autarquia e com as respetivas chefias. 

É uma decisão de um banco de nomeada em relação à dívida de uma pequena empresa, que os intermédios bloqueiam durante um ano, matando a empresa. 

É uma instituição particular de solidariedade social que desespera por um novo acordo com o Estado e que vem a saber que, afinal, a espera por essa decisão durante um ano tem que ver com um intermediário que não vai com a cara da sua presidente. 

Mas existe muito mais, como os ‘novos media’, alimentados pela internet, pelas redes sociais e pelos media clássicos. Vidas e empresas. Pessoas e marcas com anos e anos de trabalho profícuo, que se desmoronam num ápice. Com arruaças mediáticas e snipers mediáticos a arrasarem tudo o que de bom encontram pela frente.

Dirão vários: habituem-se! É o sinal dos tempos! É a força do ‘quarto equívoco’ (segundo Mário Mesquita). A ilusão do ex-quarto poder e atual primeiro poder! A pretexto de quê? Da fiscalização? Da transparência? Da independência? Da verdade? Da ética? Da moral? De tudo isso e de mais o quê? E para quê? 

Ainda recentemente, o primeiro-ministro informal de Itália, Salvini, afirmou para quem o quisesse ouvir: «Obrigado a Deus pela internet, obrigado a Deus pelas redes sociais, obrigado a Deus pelo Facebook». Já Javier Marias, em sentido contrário, afirmou: «A internet mais não faz do que organizar a imbecilidade pela primeira vez» – na medida em que as perceções se sobrepõem às realidades.

É que os riscos da era digital são cada vez maiores e evidentes. E mesmo quando se fala na urgência da cooperação digital, o que deveremos priorizar é cuidar do combate pela defesa da reserva do bom nome.

Neste tempo de muitos novos medos – muito escondidos por se temerem outro tipo de perseguições e de achincalhamentos – faz ou não sentido que se exija uma nova ética para as redes sociais? E que se pergunte se a tecnologia tem libertado o homem ou tem-no aprisionado numa caixa negra onde a técnica não é compatível com a questão social. Isso mesmo: muitos desses poderes têm dado mau uso à tecnologia.

Em várias áreas e setores da sociedade contemporânea não faltam exemplos que ilustram o alheamento de cada vez mais gente válida em relação à intervenção política, pública, cívica, associativa…

É que há já muito tempo (infelizmente) muitos poderes intermédios e sem rosto nem sequer respeitam as chefias por quem foram nomeados. Pelo contrário. Mas havemos de voltar ao tema.

Conveniente

Frei Bartolomeu dos Mártires

Portugal tem um novo santo. Que irá ser formalmente confirmado no mês de novembro deste ano, em cerimónia a realizar em Braga: Frei Bartolomeu dos Mártires, que foi arcebispo daquela cidade entre 1559 e 1592. Depois de João Paulo II o ter declarado beato há 18 anos atrás, vai ser solenemente declarado santo. O 13º santo português.

Inconveniente

As touradas

O cerco às touradas e à tauromaquia está a aumentar. Mediaticamente e nas redes ditas sociais. Para quem não é consumidor desse espetáculo e seu fã (como é o meu caso), não deixa no entanto de ser preocupante a intolerância e o argumentário utilizado para a sua diabolização. Afinal, onde está a tolerância democrática para respeitar uma tradição portuguesa com tantos aficionados?