Ao concluir um ano de colaboração nos jornais SOL e i, onde escrevi crónicas e dei entrevistas, julgo oportuno (antes de ir de férias) responder a algumas questões, assumindo convicções, referências e valores por que me norteio.
Recorrentemente, perguntam-me:
– Porquê?
-Por que te dás ao trabalho e ao risco de escrever?
– Por que te expões numa fase em que te seria muito mais confortável não o fazer?
Respondo agora:
– Porque, objetivamente, não sei fazer nenhuma das atividades a que, geralmente, se dedicam os militares reformados (jogar ténis, golfe ou bridge), e também nunca fui caçador nem pescador, nem gosto de ‘alargados’ almoços;
– Porque, subjetivamente, considero que não devo de forma egoísta, cómoda e antissocial reservar para mim aquilo que a sociedade, o país, o Estado e as Forças Armadas e de Segurança (especialmente o Exército e a GNR) me proporcionaram na minha formação e na aquisição de conhecimento, sendo minha obrigação dar público testemunho do que vi, ouvi, aprendi e fiz;
– Porque, finalmente, considero que, depois dos 60 anos, devemos olhar para o lado e para trás, refletir, assumir as nossas convicções, valores e referências — e, com base nisso, procurarmos, no âmbito da nossa ação, influenciar o presente e… o futuro.
São estes os propósitos desta colaboração pro bono que assumi com a direção do grupo editorial que integra o semanário SOL e o diário i.
Novas questões: – Porquê nestes jornais?
Porque, depois de analisar todas as possibilidades para fazer o que me propunha, considerei serem estes os ‘espaços’ onde, reconhecida e diariamente, se pratica a liberdade de imprensa, a pluralidade de opiniões, a defesa dos valores e dos princípios que me guiaram ao longo da vida.
– Quais são os valores e princípios em que acredito?
Acredito na minha Pátria; não acredito numa União Europeia a qualquer custo.
Acredito na descentralização; não acredito em regionalismos.
Acredito nas doutrinas sociais em que prevalece o ser humano; não acredito em ‘ismos’.
Acredito na hierarquia de valores; não acredito no ‘vale tudo’.
Acredito na democracia; não acredito na autocracia nem na ditadura.
Acredito na Justiça; não acredito nos ‘justiceiros’.
Acredito nos que têm a audácia de irem à frente… a fazer; não acredito nos que vão atrás… a criticar.
Acredito na verdade; não tolero a mentira.
– E quais são as minhas referências?
Sou a favor das Forças Armadas; sou contra os corporativismos.
Sou a favor de um Serviço Cívico Nacional (geral e obrigatório); sou contra o Serviço Militar Obrigatório.
Sou a favor de um Serviço Militar Misto; sou contra a profissionalização total das Forças Armadas.
Sou a favor de Forças Armadas como um ‘produto operacional’ real e ajustado aos interesses e capacidades nacionais; sou contra Forças Armadas onde tudo se faz e… pouco se consegue.
Sou a favor de serviços de saúde militares integrados no Serviço Nacional de Saúde; sou contra uma saúde militar ‘à parte’.
Sou a favor de Serviços Sociais nas Forças Armadas, integrados, ajustados, modernos e sustentáveis; sou contra o ‘assistencialismo’ oportunista, ocasional, sectário e de classe.
Sou a favor da existência do Colégio Militar e dos Pupilos do Exército; sou contra a sua inserção na estrutura do Exército.
Sou a favor de Forças Armadas estruturadas de acordo com as possibilidades e capacidades do país; sou contra a persistência de uma ideia de ‘Império’ que (há muito) já não somos.
Sou a favor de um hospital das Forças Armadas que seja uma referência no Serviço Nacional de Saúde; sou contra um hospital militar… de ‘segunda linha’.
Sou a favor de um Conceito Estratégico Nacional; sou contra o ‘sabor da corrente’.
Sou a favor da ‘paridade’ entre os corpos especiais do Estado; sou contra a anarquia e o ‘salve-se quem puder’ (por ser o mais forte, o mais influente ou o mais temido).
Sou a favor de uma estrutura das Forças Armadas com um só comandante (o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas); sou contra a ‘proliferação’ de estrelas nas Forças Armadas.
Sou a favor de rácios adequados entre comandantes e comandados.
E ainda: Sou contra a ideia republicana de ‘um cidadão, um voto’; sou a favor da ideia de que ‘um cidadão deve dispor do número de votos correspondente ao montante dos impostos que paga’.
Sou contra o ‘gastar por conta’; sou a favor de que só se pode gastar o que se tem.
Sou contra défices e dívidas; sou a favor de contas certas.
Sou contra a proliferação de forças e serviços de segurança e de órgãos de polícia criminal; sou a favor de uma só Polícia nacional (de natureza civil e integradora) e de uma polícia de natureza militar (GNR).
Sou contra a instabilidade; sou a favor da estabilidade.
Sou contra a inação; sou a favor da ação.
Sou contra o adiar; sou a favor do realizar.
Sou contra a complexidade; sou a favor da simplicidade.
Sou contra as fantasias; sou a favor das realidades.
Sou contra o ‘carreirismo’; sou a favor do mérito e da avaliação.
Sou contra o improviso; sou a favor da programação e do planeamento.
Sou contra cativações; sou a favor de orçamentos reais.
Por fim, acredito em Portugal e nos portugueses; não acredito em oportunistas e populistas.
É neste ‘quadro’ que me movimento, atuo e penso, e será com base nele que irei prosseguir os meus escritos nos já referidos jornais.
Aqui encontram, também, muitos dos temas que irei tratar no pós-férias.
As minhas convicções, referências e valores são estes.
Jamais escreverei o que não possa provar, de forma inequívoca, mas… em Nome da Verdade, será com isto que podem contar no meu regresso.
Voltarei na edição de 24 de agosto.
*Major-General Reformado