Para Francis Bacon (1561-1626) normalmente considerado como fundador da ciência moderna, existiam, no seu tempo, três realizações que demonstravam de forma clara o sentido de progresso da humanidade. Referia-se concretamente à bússola, à pólvora e à imprensa. Curiosamente, nenhuma destas realizações foi inicialmente pensada como fator essencial do progresso, todos elas revestiam expedientes inteligentes para satisfazerem necessidades ou anseios sentidos de forma particular pelos respetivos inventores.
A ideia e o conceito de progresso estavam arredados das preocupações sociais e por consequência das preocupações governamentais. Estava, então, completamente fora de causa a ideia de que a concentração de esforços utilizando continuadamente a crescente dimensão do stock de conhecimentos (estádio da arte) pode contribuir ativamente para a melhoria de qualidade e nível de vida dos cidadãos e em especial da comunidade específica que cria as condições para que tais desideratos se realizem. É esta ideia simples que determina a intervenção e esforço financeiro do Governo em matéria de incentivo das atividades de I&D, a qual começou a ganhar consistência após a II Guerra e através da obra Science, the Endeless Frontier (1945) de Vannevar Bush (1890-1974).
A ideia de progresso é relativamente recente, causando entraves em diferentes quadrantes dos poderes instituídos. Bacon que a fez surgir, reclamou, desde logo, o imperativo de se mobilizarem capacidades e competências que se articuladas teriam um elevado potencial para proporcionarem uma rápida ampliação do conhecimento orientado para o benefício de toda a comunidade, avisando também que a solução estava antes do mais dependente de uma operação devidamente planeada, dirigida e controlada, uma vez que só a vigilância constante permitiria evitar retrocessos.
Uma ideia aparentemente simples, é, porém, muitas das vezes pouco ou muito mal digerida por quem de direito, isto é, por cientistas, governantes e gestores de ciência, tendendo-se, por razões várias e demasiadas vezes (especialmente nos países detentores de uma cultura científica mais frágil e de débeis preocupações de equidade na distribuição e acesso aos bens públicos) a esquecer o seu enquadramento enquanto beneficiários intercalares e gestores de recursos públicos.
O mais simples cidadão, mesmo que iletrado, tem esperança no progresso e na ciência, não obstante os medos sucessivamente incutidos por diferentes fontes.
Tal como no passado é facilmente demonstrável que o desenvolvimento económico e social e, em particular, o desenvolvimento industrial pode ser visto como uma extensão da evolução científica, matriz que continuará a verificar-se no futuro e cuja tradução continuará a ter no progresso e na produtividade os seus indicadores mais relevantes.
Entre nós parece cada vez mais difícil perceber (porque será?) que a aplicação do conhecimento não depende exclusivamente da comunidade científica, pese embora a classe política raramente tenha atuado em conformidade (porque será?). Esquecemos recorrentemente a composição da cadeia de valorização do conhecimento insistindo em subsidiar exclusivamente os seus criadores, apostando sobretudo em apoios políticos em vez de apoios ao desenvolvimento como facilmente se constata. O passado recente é muito eloquente na explicação deste inenarrável falhanço.
Não são risos forçados, nem silêncios inquietantes que resolverão os problemas dos cidadãos comuns, pese embora possam resolver outros. É talvez essa a génese (teimosamente circulante) do nosso atraso, apresentado quase sempre como mal congénito. Não nos faltam ‘videirinhos’, sempre concentrados na sua carreira e nas benesses públicas.