Comprar ou arrendar casa é um dilema constante. Se, por um lado, a mensalidade ao comprar pode ser mais barata do que uma renda; por outro lado, a entrada de uma casa pode significar uma dor de cabeça. Para tentar desmistificar este assunto, a Century 21 realizou um estudo sobre acessibilidade da habitação em Portugal e garante que a aquisição exige menor esforço financeiro do que o arrendamento em todos os concelhos do país.
Os principais objetivos deste estudo passaram por perceber e identificar o esforço financeiro exigido às famílias portuguesas para comprar ou arrendar casa nas atuais condições do mercado e ainda apurar que tipo de habitação seria mais adequada ao rendimento disponível, assumindo por base uma casa com 90 metros quadrados.
Maior e menor taxa de esforço
Os principais resultados são claros: numa perspetiva nacional, o acesso à habitação está genericamente ajustado à capacidade económica das famílias. Contudo, há fatores que influenciam a acessibilidade à habitação, nomeadamente a concentração urbana. É que a Área Metropolitana de Lisboa e a Área Metropolitana do Porto registam cerca de 47,5% dos agregados familiares de Portugal Continental, refere o estudo.
E existem ainda três fatores que condicionam o acesso à habitação: concentração urbana, turismo e procura internacional.
O estudo indica que os concelhos onde a taxa de esforço é maior no que diz respeito à aquisição de habitação são Lisboa (58%), Lagos (52%), Loulé (52%), Tavira (52%) e Albufeira (48%). «O evidente desequilíbrio entre a oferta e a procura de habitação na capital justifica esta tendência. Já nos concelhos do Algarve, conjugação da pressão dos preços dos imóveis nos centros turísticos com os rendimentos familiares mais baixos do país, que se verificam precisamente nestes quatro concelhos, originam taxas de esforço para aquisição de casa superiores a 50%», justifica a Century 21.
Ao contrário, os concelhos onde se verifica uma menor taxa de esforço das famílias são Guarda (13%), Castelo Branco (14%), Bragança (15%), Santarém (15%) e Portalegre (16%). Contudo, estes cinco concelhos contam no total com apenas 2,1% dos agregados familiares de Portugal Continental. O estudo justifica estes valores: «A baixa densidade populacional, característica da interioridade, conjugada com os rendimentos médios mensais – entre os 1359 euros e os 1394 euros – dos agregados familiares destas cidades – em linha com os valores médios verificados na maioria das capitais de distrito justifica a maior facilidade de acesso à habitação nestas regiões».
No que diz respeito ao arrendamento, a maior taxa de esforço vai para Lisboa e Albufeira – ambos com 68% -, seguidos de Loulé, Cascais e Amadora, todos com 57%. Guarda, Viseu, Vila Real, Santarém Portalegre e Castelo Branco, com 29%, são os concelhos onde a taxa de esforço é menor.
Encargos mensais
O estudo explica que em todo o país comprar casa implica menor esforço financeiro do que arrendar.
«Adquirir a casa de 90 metros quadrados implica um encargo mensal de 14% a 61% inferior ao valor mensal do arrendamento praticado nessa zona», destaca a Century 21.
De salientar que esta tendência acontece em todos os concelhos do país, incluindo os mais valorizados, como é o caso de Lisboa e Porto, cidades onde o gap (distância percentual entre o preço médio das vendas realizadas e o valor médio de oferta disponível no mercado) se situa em respetivamente em -14% e -30%.
O estudo destaca que existe uma necessidade de promoção das várias regiões de turismo do país, com o principal objetivo de retirar pressão dos preços dos imóveis nas zonas de Lisboa, Porto e Algarve.
«A habitação não é um problema: é a solução, e devem ser criadas políticas, legislações e orientações estratégicas de longo prazo. O mercado está ajustar-se a esta nova realidade e é necessário que os operadores privados, autoridades locais e Estado português olhem para o setor imobiliário com outra perspetiva», defende Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal.
Valores disparam em Lisboa
Em 13 das 18 capitais de distrito, comprar uma casa de 90 metros quadrados fica abaixo dos 90 mil euros. As exceções são Évora, Coimbra, Faro, Porto e Lisboa. Nas três primeiras, comprar casa pode custar entre 100 mil e 130 mil euros, enquanto nas duas últimas os valores disparam: mais de 164 mil euros para o Porto e mais de 305 mil para Lisboa.
Os valores apresentados pela Century 21 são um complemento aos divulgados recentemente pelo INE. O recorde dos preços é batido pela Área Metropolitana de Lisboa, mas há outras zonas que já registam preços bastante elevados, como é o caso de Cascais, que já está acima dos 225 mil euros, e Oeiras, a rondar os 195 mil euros.
No caso da Área Metropolitana do Porto, os preços são mais baixos. Além do Porto, apenas Matosinhos supera a barreira dos 100 mil euros.
Quando foi analisada qual a prestação para a compra de 90 metros quadrados e qual a diferença face ao orçamento limite, o estudo concluiu que «a capital do país volta a apresentar uma diferença abissal em relação a todas as outras capitais de distrito, onde a mensalidade varia entre um mínimo de 182 euros na Guarda e um máximo de 564 euros no Porto». Lisboa, em média, passa os mil euros.
Apesar de o ritmo estar mais lento, o preço das casas em Portugal continua a aumentar. Lisboa continua a ser a cidade mais cara para comprar casa em Portugal, mas Amadora e Porto foram os municípios onde o preço mediano registou um crescimento homólogo maior: 22,7% e 22% respetivamente, entre o primeiro semestre do ano passado e o deste ano. Aliás, a cidade da Amadora foi a única a registar um aumento da taxa de variação homóloga (+2,4 pontos percentuais) face ao trimestre anterior.
Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e revelam ainda que o preço mediano das casas subiu para 1.011 euros por metro quadrado no primeiro trimestre deste ano, o que significa que a variação homóloga do preço mediano de alojamentos vendidos em Portugal foi de +6,4%, uma vez que se fixava nos 950 euros por metro quadrado no primeiro trimestre do ano passado. Face ao trimestre anterior, o crescimento foi de +1,5%.
Taxas de juro a 1,081%
No início desta semana, o INE divulgou também que a taxa de juro implícita no conjunto de contratos de crédito à habitação foi, no mês de junho, de 1,081%. O valor corresponde a um aumento de 0,001 pontos percentuais comparativamente ao mês de maio, registando-se assim o sétimo mês consecutivo de aumentos no que diz respeito às taxas de juro no crédito à habitação.
No que diz respeito ao mês em análise, o capital médio em dívida subiu 135 euros, fixando-se em 52 915 euros. A prestação média vencida subiu um euro, para 247 euros. Deste valor, explica o INE, 48 euros (19%) correspondem ao pagamento de juros e 199 euros (81%) estão relacionados com o capital amortizado.
O gabinete de estatística explica ainda que, nos contratos celebrados nos últimos três meses, a taxa de juro desceu de 1,394% para 1,267%. Este é o valor mais baixo desde que o INE começou a registar estes dados, em 2009.
Nos contratos celebrados nos últimos três meses, o montante médio do capital em dívida fixou-se em 99 750 euros, um valor que representa menos 768 euros do que no mês de maio.