«Os inimigos sabem que se iniciarem uma guerra, não a poderão parar».
Ali Akbari
As recentes decisões do Governo português em relação ao Irão passaram despercebidas e foram desvalorizadas. Mesmo depois das declarações do embaixador iraniano. Mas fizeram com que Portugal ficasse no radar do Governo do Irão, num momento complexo e desafiante das relações políticas entre os dois países.
E é errado desvalorizar aquele episódio. A aldeia global, a sociedade aberta, a era do mundo interdependente, ao vivo e em direto, coloca-nos a quase todos interligados. Num ápice, estaremos todos envolvidos em acontecimentos ocorridos em cenários complexos e exigentes, como é o caso do Golfo Pérsico.
Onde o americanismo, a unipolaridade militar e diplomática protagonizada pelo ‘polícia do mundo’ (EUA) contra um grande produtor de crude (Irão) pode iniciar uma guerra, correndo-se o risco de não a conseguir parar.
Ainda por cima, num território onde, depois do desmoronamento de um gigante regional, como o Iraque, emergiu uma nova guerra fria entre o irão e a Arábia Saudita.
Onde, nos últimos anos, todos os dias são postos à prova novos equilíbrios regionais, novas ambições, para ocuparem espaços vazios – que alimentam guerras por procuração, como tem sido o caso mais catastrófico da guerra do Iémen.
De tudo isto vive o Golfo Pérsico: jogos de guerra, dinâmicas de provocação, pequenos incidentes entre contrários – que se perdem a acender rastilhos passíveis de dar origem a conflitos de proporções graves e impensáveis. Até porque o Golfo Pérsico é há muito tempo um barril de pólvora pronto a explodir a todo o momento, com repercussões e estilhaços difíceis de conter não só à escala dos seus territórios mas também à escala mundial.
A República islâmica terá consciência do seu pouco espaço de manobra, da sua pouca possibilidade de recuo naquilo a que se tem chamado ‘jogos de guerra’ – onde os americanos, os britânicos e os persas marcam território ao milímetro e se provocam infinitamente. E a história política está carregada de exemplos que provam uma verdade simples: sabe-se como as guerras começam mas não se sabe como acabam.
O bloqueio económico e a guerra de palavras e de tweets por parte de Donald Trump e do seu Governo são uma pressão quase em jeito de declaração de guerra informal.
Mas Trump tem uma eleição para vencer. E o regime de Teerão tem uma sucessão de crises para enfrentar internamente. E a mais grave (e menos falada) é a crise ecológica: prevê-se que, em pouco mais de uma década, metade do território do gigante persa fique inabitável.
A somar a tudo isso, os sinais de desnorte e de bloqueamento do sistema político e religioso iraniano são cada vez mais fortes.
Nesse quadro, a proposta de Mike Pompeo de 12 pontos para uma negociação é vista em Teerão como o caminho para a capitulação persa. Tal, a acontecer, será apetitosamente perigoso para os beligerantes e cultores da pureza ideológica e religiosa de ambos os lados. A Europa distanciou-se dos EUA no que diz respeito à morte unilateral do acordo nuclear. Até porque a soberania comercial europeia será altamente prejudicada. O mesmo sucedendo com a economia do Irão (o seu PIB tem caído a pique cerca de 5% ao ano).
Trump, com a suspensão de isenções à China, Japão e Índia pela importação de petróleo do Irão está a dar a machadada final. Mas os americanos esquecem-se de que a nova guerra fria entre a Arábia Saudita e o Irão tem muito que ver com o que provocaram no Iraque.
Por outro lado, não nos devemos esquecer de que o Irão tem várias debilidades. Desde logo, ser etnicamente persa, rodeado por vários países árabes. Como também a sua desproporção militar comparativamente com países da região como o Egito, a Arábia Saudita e Israel.
É caso para dizer que longe vão os tempos da amizade oferecida por Barack Obama. Portugal não deve por isso ser voluntarista em decisões a tomar em relação ao Irão.
Conveniente
Portugal e a globalização
Henrique Leitão, professor e investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tem entre mãos um trabalho que tem tanto de inovador como de aliciante: estudar os roteiros náuticos de Portugal e de Espanha do século XVI ao século XVII. Com o objetivo de melhor se conhecer e entender como se materializou a chamada ‘Terra global’.
Inconveniente
O futuro do livro
Desde 2009, a venda de livros tem vindo a cair. De 2009 a 2019 (últimos dez anos), diminuiu quase 22% em Portugal. A somar a esta queda, deveremos ter presentes os baixos índices de leitura que persistentemente continuamos a ter. São indicadores que nos devem preocupar, quando ao mesmo tempo a frequência de utilização das redes sociais é a que infelizmente sabemos.