O Fundo Monetário Internacional (FMI), no World Economic Outlook divulgado recentemente, reviu em baixa – ainda que ligeira – o crescimento da economia mundial, para 3,2% este ano e 3,5% do próximo. Estes valores representam menos 0,1 pontos percentuais em ambos os casos, quando comparados com o relatório apresentado em abril.
Esta revisão não é vista com qualquer surpresa pelo economista Eduardo Silva, da XTB. Ainda assim, considera que «é uma revisão que peca por cautelosa mas justificada pelos crescentes riscos e incertezas a pairar sobre a economia».
Na opinião deste analista ouvido pelo SOL, os maiores riscos desta revisão estão relacionados com as «incertezas que condicionam o crescimento», como é o caso das tensões comerciais e tecnológicas e o risco em torno dos acordos de livre comércio.
Na zona euro, o FMI projeta um crescimento de 1,3% para este ano e 1,6% no próximo. A previsão de abril apontava para um crescimento igual para este ano e de 1,7% para 2020. Para Eduardo Silva, para que esse crescimento realmente aconteça, «o BCE terá que voltar a ter um papel fundamental para suportar o crescimento, podendo inclusive introduzir métodos menos convencionais de último recurso, como compra de acções para fomentar o crescimento».
Para o economista, o crédito fácil vai continuar a ajudar as famílias e empresas a mitigar os riscos desta fase de transição para uma economia mais verde e virada para o futuro. «Os desafios e incertezas justificam as preocupações dos analistas», frisa.
O FMI reviu em baixa a previsão de crescimento económico na Alemanha, mas reviu em alta em Espanha. Eduardo Silva explica que, no país vizinho, «a revisão aponta para o forte investimento e a fraqueza das importações no arranque do ano como fator de otimismo». No caso da Alemanha, a revisão em baixa para este ano é justificada «pela menor procura externa e investimento». Para que a economia melhore, a Alemanha vai, possivelmente, «garantir fundos que podem ajudar a criar infraestrutura de que permita uma menor dependência de energias como o carvão. Estas medidas irão gerar crescimento», perspetiva o analista.
Portugal sem revisão
Neste relatório, o FMI não apresenta previsão para Portugal, mantendo-se assim aquela que foi apresentada em abril: crescimento de 1,7% para este ano e 1,5% para o próximo. Questionado sobre se o facto de não existir revisão para Portugal é bom ou mau sinal, Eduardo Silva garante que pode ser visto das duas formas. «Não está a piorar, mas também não acelerou. No entanto, considerando as limitações orçamentais devido ao peso da dívida soberana que condiciona o investimento público, podemos considerar que existem razões para estar otimistas».
Reino Unido é uma interrogação
Para a economia do Reino Unido, a previsão do FMI é de crescimento. Mas pode haver surpresas. «Claramente existe um enorme risco que poderá ser maior se a saída for sem acordo ou se o país assumir uma tomada de posição em que opte por sair e não pagar. As retaliações poderiam ser fortes e condicionar o crescimento», afirma Eduardo Silva, referindo-se ao Brexit. «O Reino Unido neste momento é um enorme ponto de interrogação», defende.
A nível mundial, o conflito entre os Estados Unidos e a China voltou a representar um grande peso na revisão. O economista explica que «a administração de Trump usa a pressão das tarifas como forma de renegociar condições comerciais e inclusive garantir negócios paralelos como aumentar a exportação de matérias primas». Para isso, defende Eduardo Silva, é necessário compreender que nesta negociação ambos os lados parecem entender a dependência um do outro «e o bom senso parece estar a imperar neste momento».