O presidente do PSD conseguiu aprovar as listas de candidatos a deputados com 80 votos a favor, 18 contra e 10 abstenções em conselho nacional. Contas feitas, existem duas leituras: 74% por cento dos votos ou 82%. Para Rui Rio, a sua estratégia foi legitimada por 82%, porque não se contabiliza a abstenção segundo os regulamentos do partido. Ainda assim, o resultado ficou muito longe da unanimidade de 2015, quando os sociais-democratas estavam no poder.
O processo de formação das listas arrastou-se dois meses, com muitas críticas à mistura e ameaças de demissão. Em Leiria, o presidente da distrital, Rui Rocha, estava ontem a ponderar se se demitia do cargo, bem como da comissão política nacional. Para o efeito, convocou uma reunião da distrital para tomar uma decisão. Em Aveiro também há descontentamento entre os autarcas contra o vice-presidente do partido Salvador Malheiro pela forma como foi feita a lista. E, em Santarém, Isilda Aguincha estava ontem a avaliar se se mantinha em 9.º lugar da lista – mas só hoje tomará uma decisão.
Já Maló de Abreu, vogal da direção e um dos operacionais da direção de campanha, criou mais uma polémica: “PSD aprova listas com 18 votos contra e 80 a favor. Uma derrota dos jornaleiros arautos da desgraça. Ponto! Queriam sangue? Cortem os pulsos com que anunciaram, durante semanas, o fim do mundo”, escreveu no Twitter.
No balanço do encontro, a distrital do PSD/Porto foi a que sofreu mais pressões, absteve-se e a concelhia do Porto acabou por retirar os dois nomes indicados: Hugo Neto e Palmira Lobo. A estrutura não gostou dos lugares indicados. Mas o problema não se esgota na concelhia da Invicta. Rui Rio impôs sete nomes em 13 lugares elegíveis, uma autêntica quadratura do círculo para o presidente da distrital, Alberto Machado. Ontem, a estrutura reuniu para preparar a campanha e, de acordo com informações recolhidas pelo i, há descontentamento pela gestão das listas. As contas far-se-ão após as legislativas. Mais, deputados como Miguel Santos, Luís Vales e Simão Ribeiro querem ouvir as suas concelhias para decidir se ficam nas listas ou não. Estão os três em lugares inelegíveis. Miguel Santos disse mesmo ao i que era “uma maldade” ter ficado em 29 º lugar, depois da sua concelhia – Valongo– o ter escolhido em urna.
Entre nomes excluídos ou repescados, a direção do PSD só assumiu um veto, o de Hugo Soares, deputado eleito por Braga, e apoiante do challenger de Rio, Luís Montenegro. O também ex-líder parlamentar discursou no encontro dizendo palavras duras contra o líder do PSD. “O senhor não gosta do PSD”, ou o veto político de que foi alvo “é uma medalha para o futuro” foram duas das ideias que quis deixar, antes de sair do conselho nacional. A dureza do discurso serviu para ilustrar que Rio não ouve as estruturas, nem as respeita. Mas esta não foi uma intervenção muito aplaudida, um sinal de que os apoiantes de Montenegro terão de esperar até às eleições de outubro. Hugo Soares, não foi um crítico isolado. Elementos de outras distritais também criticaram as opções de Rio. O presidente ouviu-as mas não respondeu a nenhuma. Cá fora até considerou o processo “razoavelmente pacífico” ou sem “saneamentos selvagens”.
Lá dentro ainda recebeu um desafio que também ficou sem resposta, o de Luís Rodrigues, um conselheiro de Setúbal que tem por hábito sentar-se na primeira fila para falar aos líderes.
“Após dia 6 de Outubro, seja qual for o resultado eleitoral, que espero e desejo que seja a vitória, sem qualquer taticismo, apenas com o objetivo de antecipar e preparar da melhor forma os próximos desafios politico-eleitorais o PSD deve ir para eleições internas”, declarou o antigo presidente da distrital de Setúbal.
Em Setúbal, a distrital também se reuniu ontem (o encontro decorria ao fecho desta edição), depois do voto contra as listas feito pelo líder, Bruno Vitorino. O dirigente não afastou a hipótese de demissão, apesar não ter fechado a porta a manter-se no cargo.
No conselho nacional houve ainda uma declaração surpreendente, a de Jorge Neto, membro do Conselho Estratégico nacional. O responsável acusou, sem tibiezas, Rio de “limpeza” nas listas, tendo recordado que foi seu apoiante no passado.
O aliado inesperado Pela segunda vez , o antigo líder do PSD Luís Filipe Menezes fez o discurso de apoio a Rui Rio. Em janeiro, no conselho nacional que relegitimou o presidente social-democrata, Menezes apareceu a defender o cumprimento de mandatos e mereceu um abraço emocionado de Rio no final da reunião. Na reunião do conselho nacional, o também antigo autarca de Vila de Nova de Gaia defendeu que a situação do partido não é culpa de Rui Rio, mas sim do seu antecessor. “Não foi Rui Rio que construiu este patamar negativo. Se o Diabo tivesse sido exorcizado há dois anos e meio tinha sido diferente”, declarou Menezes aos jornalistas já no final da reunião. De realçar que Rio e Menezes já foram inimigos quando desempenhavam funções autárquicas. Agora, o ex-autarca de Gaia até aceita ser o primeiro suplente da lista pelo Porto para sinalizar que está ao lado de Rio.
Ontem, à rádio Observador, José Miguel Júdice vaticinou, contudo, que “Rui Rio não tem futuro, é um líder a prazo”.