Portugal perdeu a final do Euro Sub-19. A campanha foi excelente, com um merecidíssimo lugar na final, mas — é dos livros — numa final só pode ganhar um.
Desta vez, a Espanha foi melhor, como bem reconheceram o treinador e os jogadores portugueses, ouvidos no final do jogo e à chegada a Lisboa. Quando a derrota espelha o que se passou em campo, não há razões para lamentos ou protestos. Assim aconteceu desta vez, e ainda bem: como diziam os antigos, ‘glória aos vencedores, honra aos vencidos’.
No futebol, como na vida, as coisas são assim mesmo: umas vezes ganha-se, outras perde-se; há que saber celebrar a vitória com respeito pelos adversários, e aceitar a derrota com dignidade. Daí a dificuldade que tenho em apreciar lágrimas – que só compreenderia se brotassem da raiva que não é possível conter face a incidências alheias à prática desportiva, de erros grosseiros do árbitro, ou, vá lá, da manifesta injustiça do resultado. Mas não foi caso em Yerevan, a capital da longínqua Arménia.
Não é por ter aderido tardiamente à treta do ‘um homem não chora’ que não partilho a exaltação nacional das lágrimas dos nossos rapazes: é por não encontrar justificação para o desconsolo de quem não ignora que perdeu por culpas próprias, por mais compreensíveis que elas sejam. No passado, fui solidário com Fernando Mamede, cujos nervos não o deixaram ganhar medalhas olímpicas; mas nunca com as suas lágrimas, de quem devia a si próprio as derrotas nos estádios.
Compreendo a deceção de quem sonhou ser campeão e não o conseguiu, mas entendo que a reação digna de quem cai perante um adversário superior é reconhecer o mérito do vencedor.
No final do jogo de Yerevan, em vez das lágrimas, teria preferido ver os nossos Sub-19, de cabeça erguida, a cumprimentarem os adversários com doses iguais de desportivismo e determinação: «Parabéns, mereceste a taça. Mas, para a próxima, conta comigo».
As palmadinhas nas costas a quem chora indiciam um conformismo que é o contrário da profissionalização de atletas que devem ter preparação mental para saber reagir ao infortúnio. A cura para as contrariedades não estará nunca nas lágrimas, é bem mais provável que esteja no acréscimo de empenho nos treinos seguintes.
O que os amantes do futebol querem ver em campo é a fome de vitória de um Eusébio que nunca desistia, agora reeditada por um Ronaldo que ‘não gosta de perder nem a feijões’. Ao ponta-de-lança que remata à barra de nada vale o destempero do mau perdedor, como não adianta a reação típica das mãos na cabeça, voltando as costas à baliza, como costumava fazer Nuno Gomes — que, sendo excelente, não tinha a codícia necessária para ir atrás da bola e transformar o ressalto em golo. Quando o mundo inteiro viu os alemães darem sete a um Brasil de braços caídos, ficou claro para toda a gente o que vale a diferença de atitude.
No Governo das nações, nos partidos políticos, nas empresas e na vida de cada um também deveria ser assim: melhor emendar o que correu mal do que sacudir a água do capote.