Pelo menos 14 pessoas foram mortas e 145 ficaram feridas depois de um bombista suicida ter feito explodir o seu carro, perto da entrada de uma esquadra em Cabul, capital do Afeganistão, esta quarta-feira. O ataque, que sucedeu enquanto decorrem negociações de paz, foi reivindicado pelos talibãs, que esperam alcançar um acordo antes das eleições presidenciais.
A explosão ocorreu por volta das nove da manha (5h em Lisboa) e deixou uma enorme nuvem de fumo sobre Kabul. “Ouvi um grande estrondo, as janelas partiram-se e o vidro voou por toda a parte”, disse um pequeno comerciante à AFP. As imagens que correram as redes sociais mostram grande parte das paredes do edifício destruídas.
“Quando o ar clareou, vi várias mulheres a procurar desesperadamente os seus maridos ou os seus filhos, perto do local da explosão”, comentou uma jornalista local que vivia perto da zona onde a explosão ocorreu.
Segundo o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, a explosão visava um centro de recrutamento de forças militares afegãs. O ataque veio culminar uma noite tensa na cidade, após os talibã terem pedido o boicote às eleições presidenciais de 28 de setembro, no dia anterior. Alguns minutos depois da meia-noite, já se tinham ouvido explosões em várias partes da capital do Afeganistão.
Do lado contrário, as forças de segurança afegãs realizaram, nas últimas 24 horas, 100 operações militares e pequenos ataques, incluindo aéreos, que mataram 84 membros talibã, de acordo com o Ministério da Defesa do Afeganistão.
Os talibãs têm lançado ataques mortais quase diariamente, apesar de estarem em negociações com os Estados Unidos desde outubro. Mas do lado do Governo liderado pelo Presidente Ashraf Ghani, também se tem disseminado a violência. Segundo outro ministério, o do Interior, a ofensiva lançada pelas forças do Governo em abril já matou quase cinco mil combatentes talibã.
O conflito mais longo dos EUA
O país vive uma guerra infernal desde 2001, altura em que os Estados Unidos invadiram o Afeganistão para retirar os talibã do poder e desmantelar a al-Qaeda.
Volvidos 18 anos, o conflito – o mais longo em que os Estados Unidos alguma vez estiveram envolvidos – propaga-se e os talibãs controlam metade do Afeganistão, estando no seu auge desde que a guerra começou. Até o Estado Islâmico já estabeleceu várias bases operacionais no país. No último mês de julho assistiu-se ao pior banho de sangue dos últimos dois anos: 1500 pessoas morreram ou ficaram feridas, segundo as Nações Unidas.
Um relatório da organização internacional, do final de julho, atribuiu às Forças Armadas afegãs, aos Estados Unidos e às forças aliadas, a responsabilidade de mais de metade dos 1400 civis mortos nos primeiros seis meses deste ano, 363 dos quais por ataques aéreos. Por outro lado, o documento atribuiu 39% das mortes aos talibã e ao Estado Islâmico.
Entretanto, prosseguem negociações entre Washington e os talibãs para um cessar fogo. Pelo meio de todo este banho de sangue e de massacres, os diplomatas norte-americanos encontraram-se pela oitava vez, desde outubro, com os representantes da organização muçulmana em Doha, no Qatar, na passada terça-feira. Os talibãs só admitem negociar com Washington por considerarem o Governo de Cabul um mero fantoche dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos e a NATO concluíram formalmente a sua missão de combate em 2014, mas os norte-americanos continuam a treinar e a financiar as Forças Armadas do Afeganistão.
Apesar de os norte-americanos pretenderem reduzir o contingente militar colocado no país, a rejeição dos talibãs em negociarem diretamente com o Governo de Ghani tem levado a um impasse. A exclusão do Governo das conversações está a deixar o Presidente receoso de que a sua posição saia enfraquecida. Por outro lado, muitos críticos apontam que Ghani está a dar prioridade às próximas eleições presidenciais, pois um eventual acordo dos americanos com os talibãs poderia terminar com a sua presidência.