«Uma biblioteca não é apenas um lugar de caos e de ordem. Ela é também o reino do acaso».
Adalberto Manguel
Este ano cumprem-se cinco séculos da viagem de Fernão de Magalhães, naquela que foi e continua a ser considerada a primeira viagem de circum-navegação.
A Real Academia de História de Espanha, com o apoio de alguma comunicação social madrilena, considerou que Portugal não deverá estar associado à efeméride, porquanto ser um feito marcadamente do reino de Espanha.
Para historiador português João Paulo Oliveira e Costa, porém, «os feitos de Magalhães resultaram dos conhecimentos que acumulou ao serviço da coroa de Portugal». A posição espanhola não fará, nesta perspetiva, qualquer sentido. Até porque, ainda segundo Oliveira e Costa, a expedição de 1519-22 foi feita sob a autoridade de Castela e não de Espanha. E recorda que, à época, «os súbditos da coroa de Aragão estavam proibidos de demandar a América, então denominada como Índias de Castela».
Foi, pois, um português, Fernão de Magalhães, que liderou esta viagem de circum-navegação, com toda a sua preparação e conhecimentos científicos e náuticos adquiridos ao serviço de Portugal.
Das muitas referências históricas a este navegador, feitas ao longo de séculos, é fácil concluir que foi uma personagem complexa e de trato nada fácil.
Nascido – estima-se – nos idos de 1480, em Ponte da Barca, no norte de Portugal (segundo defende Amândio Barros em A naturalidade de Fernão de Magalhães revisitada), era considerado um fidalgo da província profunda.
Também conhecido por ter descoberto o caminho marítimo entre Sevilha e as Molucas, antes da grande viagem à volta do mundo participou em muitas outras empresas marítimas, onde foi apurando os seus conhecimentos e técnicas.
Passados tantos anos, faz todo o sentido que se assinale a importância da sua viagem de circum-navegação.
A esse propósito, o Navio Escola Sagres vai fazer também uma volta ao mundo, com um roteiro onde estarão obrigatoriamente incluídos muitos dos locais e paragens de Fernão de Magalhães.
Aquele navio já fez outras viagens semelhantes nas últimas décadas. Na década de setenta do século passado (1978), na década de oitenta do mesmo século (1983) e, mais recentemente, já neste século, no ano 2010. E não faltam passagens e paragens como em Punta Arenas (passagem entre o Atlântico e o Pacífico), Porto de São Julião (Patagónia), Garcia, Brunei, Cebu, Tóquio, etc.
Fernão de Magalhães é um herói português com dimensão mundial. Está desde o ano passado a ser trabalhado o guião para um filme sobre a sua vida e a sua ‘obra’. Um filme que sirva de instrumento pedagógico, para que se conheça a sua personalidade enquanto português que desbravou caminhos desconhecidos, abriu novas oportunidades, económicas, sociais, culturais, e foi um cultor da arte de navegar, das ciências náuticas, da técnica e do conhecimento científico. O que teria sido o mundo nos séculos seguintes sem o que Fernão de Magalhães fez no seu tempo?
Há anos que procuro sensibilizar instituições, mecenas, cineastas e historiadores para a importância do cinema para um país como Portugal.
Um país com uma história rica em heróis, personagens e factos localizados no tempo com repercussões europeias e mundiais. Portugal tem muitas condições para dar a conhecer tudo isso através do cinema. Com produção assente em vários tipos de parcerias. Não só nacionais como internacionais. Onde as melhores produtoras, os bons fundos de investimento, devem ser desafiados a investir. Temos ‘história’, temos ‘factos’, ‘figuras’ e ‘personagens’ para isso.
E temos também bom clima, património natural e património edificado, e preços comparativamente mais baixos com outros países, para que o cinema, a par do turismo, seja uma aposta ganha.
Fernão de Magalhães é um, de entre outros exemplos de filme, que tem tudo para ser um sucesso. Com repercussões positivas para Portugal e para os financiadores.
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