Há quem pense que os ‘assuntos internacionais’ são algo que exija, para se entenderem as dinâmicas entre os vários países (ou seus aglomerados) e se formularem juízos de avaliação sobre os respetivos comportamentos, especiais conhecimentos de história, de direito, de economia, de ‘geopolítica’, etc.
Nada mais incorreto. As relações internacionais limitam-se a refletir, à escala de organismos sociais integrados (grupos humanos extensos, comunidades ‘nacionais’), os mesmos fenómenos que se verificam à escala elementar de uma família, de uma comunidade de rua/bairro/aldeia, de uma empresa ou grupo de trabalho.
Cada um de nós é capaz de reconhecer em si próprio e naqueles que nos rodeiam toda uma série de ‘defeitos’ (sacanagem, intrujice, ambição, inveja, prepotência, vaidade, cobardia, etc.) que caracterizam muitas das culturas e práticas sociais atuais, desenvolvidas desde há cerca de 8/10 mil anos, no quadro da emergência da agricultura e do Poder.
Com essas ou outras designações, são esses exatamente os mesmos ‘defeitos’ exibidos pelos Estados (enquanto representantes de ‘nações’) nas suas relações internacionais.
Ao longo dos tempos, designadamente dos últimos 3 mil anos, que os povos se têm interrogado sobre a origem e as consequências perniciosas desses ‘defeitos’ sobre a vida humana, bem como sobre os meios de os ultrapassar, desde os gregos clássicos às religiões monoteístas ocidentais até às filosofias orientais indianas, chinesas, etc.
A partir dessas reflexões, muitas teorias, doutrinas e ideologias têm procurado recuperar a harmonia do Homem consigo próprio e fundamentado tentativas práticas da sua aplicação no plano social.
Contudo, os recentes desenvolvimentos científicos nos domínios da biologia, da antropologia e dos fenómenos da mente têm-nos permitido conhecer melhor as características bio-culturais dos nossos antepassados e formular alguns princípios que, no plano relacional, permitiram a emergência de um Modo de Viver Humano que nos diferenciou de outras espécies de hominídeos e nos tornou possíveis.
Do mesmo modo como o ADN e os mecanismos epigenéticos constituem a biblioteca para a realização da homeostasia do ser vivo, os Princípios Relacionais de natureza evolutiva que asseguram a homeostasia sociocultural (ver António Damásio) de um organismo constituem o correspondente ‘ADN sociocultural’.
Esses Princípios (ou Valores) com que Todos os Humanos nascem e se encontram embutidos na sua estrutura biopsicológica são, com esta ou aquela formulação:
– Plena e Harmoniosa Integração nos processos naturais e cósmicos
– Amor, que segundo a definição de Humberto Maturana, consiste na aceitação do outro como legítimo diferente, seja ele humano ou de outras espécies da biosfera;
– Honestidade, Confiança e Lealdade;
– Colaboração (partilha de esforços);
– Partilha dos recursos para a sobrevivência e o bem-estar;
– Curiosidade e partilha do Conhecimento;
– Justiça, enquanto resolução pacífica e equilibrada de diferendos/erros, com vista à preservação/conservação dos melhores padrões homeostáticos (sociais e individuais).
Deste modo, bastaria começarmos, todos, já hoje, a orientar as nossas vidas pessoais segundo esses Valores (a que chamarei Valores Éticos) para, a ‘breve prazo’, tais Valores se expandirem para o plano das Relações Internacionais.