Com a queda precoce do FC Porto na terceira pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, o Benfica será o único representante português na competição em 2019/20, tendo ainda subido ao pote 2, evitando alguns dos chamados tubarões do futebol europeu, como Real e Atlético de Madrid, Tottenham, Nápoles, Borússia de Dortmund e Ajax, caso os holandeses consigam ultrapassar o playoff. Ainda assim, Bruno Lage não ficou contente.
"Sinceramente, não. E por várias razões. Primeiro, é esse lado teórico das equipas do pote 1, 2, 3. É verdade que o historial ao longo dos anos pesa, mas uma equipa que está no pote 2 ou 3 por vezes tem transformações por aquilo que é a aposta imediata em termos financeiros na construção de um determinado plantel. Na Liga dos Campeões não há jogos fáceis. Para fazermos uma campanha à altura da dimensão do Benfica, temos de estar preparados para levar todos os jogos da forma como os temos encarado até aqui: de forma muito convincente", começou por dizer, para depois recordar os sucessos recentes… do FC Porto nas competições europeias: "Faço-o de uma forma muito tranquila: nos últimos 20 anos, o FC Porto foi a equipa que mais pontos conquistou para que o vencedor do campeonato entre de forma direta na Liga dos Campeões. Quantos mais pontos fizermos, mais equipas vão estar na Liga dos Campeões. Se não, o que é que nos vai acontecer? Estarmos a olhar para um determinado jogador e ele preferir sempre um terceiro, quarto ou quinto classificado de uma liga espanhola, inglesa ou francesa. Acho que não nos falta nada; se faltasse, não tínhamos tantos e tão bons treinadores a trabalhar por essa Europa fora. Mas, se formos mais competitivos, vamos crescer e evoluir".
Virando o foco para o jogo deste sábado com o Belenenses, SAD, no Jamor, na segunda jornada da Liga, Bruno Lage reservou rasgados elogios para o adversário – o único a quem não conseguiu vencer em 2018/19 (2-2 na Luz). "Trata-se de mais um jogo e de uma enorme dificuldade, pelo valor dos jogadores do Belenenses, pela qualidade de jogo e pela enorme qualidade do seu treinador. Preparámo-nos da melhor maneira para darmos a melhor resposta em função da nossa mentalidade. O Portimonense-Belenenses terminou 0-0 mas teve uma riqueza tática enorme quer de um lado, quer de outro", frisou o treinador encarnado, aproveitando uma pergunta sobre o propalado empréstimo de Cádiz ao conjunto azul… para falar de Conti, central argentino que raramente tem sido opção consigo ao leme da equipa. "Sobre o Cádiz, não falo. Quanto ao Conti, não está no mercado, está apenas lesionado. É um miúdo extraordinário, que saiu do seu país e que teve a infelicidade de se voltar a lesionar. Apenas não está a jogar porque tem dois jogadores extraordinários, também jovens, à sua frente", ressalvou, antes de contar uma história a envolver o mítico Shéu: "Todos nós conhecemos o sr. Shéu, todos nós sabemos o jogador que ele foi, o que fez depois de encerrar a carreira, o que ele significa para o Benfica. Outro dia, numa rara ocasião em que a minha televisão não estava no Panda, estava na BTV. Estava a ver um episódio sobre o património do Benfica e percebi que o Shéu quando chegou ao Benfica esteve dois anos sem jogar. Dois anos. O Conti chegou há um ano. Qual é o jogador e o empresário que, ao fim de seis meses, não quer sair? Do dia 31 de dezembro para o dia 1 de janeiro, estão logo a bater à porta porque querem sair. Isto não é sair em defesa do Conti, porque ele não precisa, é só para fazer um esclarecimento".
Ainda na senda das revelações, o treinador encarnado contou também um episódio relacionado com o último jogo de 2018/19, no qual o Benfica garantiu a conquista do 37.º título. "Depois de termos ido ao Marquês, tivemos um pequeno lanche já madrugada dentro no Estádio da Luz. Os jogadores ainda tinham energia para se irem divertir e fiquei eu e o nosso diretor-geral Tiago Pinto. Olhámos os dois para a televisão, completamente sóbrios porque não tínhamos bebido nada, e estávamos a ver o nosso jogo com o Santa Clara. Quando fazemos o 4-0 ainda temos 20 minutos para jogar e comentámos que naquela altura, se marcássemos um golo, ficávamos na história como o melhor ataque do Benfica. Mais tarde, enquanto vou a conduzir para casa, pensei que até era giro a história ficar assim. Íamos tirar esse recorde a uma grande equipa, que foi bicampeã da Europa. De alguma forma fez-se justiça: nós só ganhámos um campeonato. E tirar esse recorde a uma equipa que foi bicampeã da Europa…", atirou o técnico setubalense.
E por falar em Setúbal, o município sadino irá distinguir Bruno Lage, bem como o seu adjunto Alexandre Silva, com a Medalha da Cidade, na categoria de desporto, no próximo dia 15 de setembro. O treinador encarnado mostrou-se obviamente satisfeito, lembrando contudo que outros cidadãos mais anónimos mereciam igualmente o prémio – entre os quais o seu pai. "É de facto uma honra enorme, mas quando se está num lugar como este e se conseguem objetivos como foram alcançados o ano passado, com o título, acaba por ser normal sermos reconhecidos pelo nosso trabalho. Fico contente também porque, tal como eu que estive vários anos a fazer algo pela cidade de Setúbal, vão ser reconhecidas pessoas que não ocupam um lugar tão importante, mas que têm o mesmo mérito. Eventualmente lembro o que foi, porque ele agora já está reformado, o trabalho do meu pai. Mais em termos de cidade: aquilo que ele foi e aquilo que ele fez enquanto jogador, enquanto treinador, enquanto diretor de alguns clubes. Foram muitos mais anos do que eu a contribuir para que a cidade de Setúbal seja um melhor local para todos nós. Portanto, um enorme orgulho em ser de Setúbal, mas acho gostava de partilhar este mérito por aquelas pessoas, como o meu pai, que trabalham durante muitos anos na sombra e que, por isto ou por aquilo, não lhe é reconhecido este mérito", concluiu.