Estão a ser umas semanas absolutamente caóticas na arena política italiana. «A maior reviravolta da história?», leu-se nas manchetes do diário italiano La Stampa. O líder dos nacionalistas da Liga, Matteo Salvini, tem apelado a eleições antecipadas, mas recusa demitir os seus ministros. Enquanto isso, os seus antigos parceiros de coligação do Movimento 5 Estrelas (M5E) aproximam-se cada vez mais dos seus rivais do Partido Democrático (PD) – que recusaram negociar com os populistas em 2018, atirando-os para os braços da Liga.
Entretanto, velhas personagens regressaram à ribalta, como ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, caído em desgraça em 2016, depois de ter perdido um referendo constitucional. Em entrevista ao El País, Renzi prometeu: «Há que salvar Itália. Iremos dividirmo-nos depois». A Liga arrisca ficar a ver outros governar e vários dos seus dirigentes já se arrependem de ter rompido com o 5 Estrelas.
Até o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte – que ainda há pouco tempo era o mediador entre a Liga e M5S -, se atira a Salvini. O primeiro-ministro acusou o ministro do Interior de «deslealdade», por destabilizar o país para capitalizar a sua crescente popularidade eleitoral – que passou dos cerca de 17% dos votos que teve nas eleições de 2018 para 36,1% das intenções de voto, segundo o Termometro Politico. Havendo eleições antecipadas, tudo indica que Salvini poderia Governar apenas com os nacionalistas do Irmãos de Itália e com o Força Itália de Silvio Berlusconi – dando asas à «obsessão com bloquear a imigração» de é acusado por Conte (ver texto abaixo).
Arrependimento
A manobra de Salvini não está a correr como planeado. O M5S e o PD uniram-se para adiar para esta semana o debate da moção de censura apresentada por Salvini. Agora, o assunto passa pelas mãos do Presidente italiano, Sergio Mattarella – que está tudo menos satisfeito com Salvini. Matarella não quer eleições antecipadas, pois adiariam a aprovação do Orçamento de Estado, marcada para o outono – numa altura, em que Itália enfrenta Bruxelas por incumprimento das metas orçamentais europeias.
Para evitar eleições, o Presidente pode muito bem nomear um primeiro-ministro que junte PD e M5S, que tente levar até ao fim a legislatura – desgastando os nacionalistas pelo meio.
Face à proposta de um «Governo de unidade nacional» de Renzi, Salvini prometeu: «Farei tudo ao meu alcance para impedir um acordo trapaceiro entre o 5 Estrelas e o PD». A Liga já mostrou algum arrependimento quanto à sua arriscada aposta, com vários dirigentes a sugerir tentar resolver as coisas com os seus antigos parceiros. O líder do M5S, Luigi di Maio, respondeu no Facebook: «Ele [Salvini] arrepende-se, mas o estrago está feito. Todos criamos o nosso próprio destino. Boa sorte!».