A marcha organizada pela Frente Civil de Direitos Humanos juntou 1,7 milhões de pessoas este domingo, segundo a organização, na 11.a semana de contestação consecutiva em Hong Kong. Com as forças paramilitares chinesas à porta, na cidade de Shenzen, que fica a norte de Hong Kong, um mar de ativistas encheu as ruas da antiga colónia britânica para mostrar aos líderes da cidade que o movimento ainda aglomera apoio popular, apesar da violência e das crescentes advertências de Pequim.
A polícia autorizou a marcha, mas só permitiu a manifestação em Victoria Park, que tem sido palco de vários protestos, alegando não poder garantir a segurança pública devido à violência dos protestos nos últimos dias.
Apesar da chuva, o parque encheu-se com dezenas de milhares de pessoas, a meio da tarde, e os manifestantes começaram a espalhar-se pelas artérias mais próximas, parando o tráfego. “Vamos ficar aqui, vamos agir até que eles [o Governo] respondam”, disse uma jovem de 20 anos à AP, salientando que as condições meteorológicas não os impede de invadirem as ruas: “Na chuva, o nosso espírito fortalece-se”.
No entanto, já para o anoitecer, os manifestantes dispersaram-se e levaram os seus guarda-chuvas para o centro da cidade, indo contra as ordens da polícia. “Pessoas de Hong Kong, continuem a lutar!”, gritaram vários ativistas.
Ao contrário das manifestações anteriores, não foram erguidas barricadas e a marcha ocorreu de forma “racional, mas não violenta”, tal como a Frente Civil de Direitos Humanos havia apelado. A polícia de choque manteve-se distante da marcha e não foi disparado gás lacrimogéneo.
Apesar disso, um homem de Xangai que tentava tirar uma fotografia durante a marcha foi rodeado por ativistas, que questionaram a sua identidade. “Bateram-me. Também colaram autocolantes nas minhas roupas e esguicharam spray para as minhas costas”, reclamou o homem aos repórteres.
A acalmia na marcha deste domingo contrariou a violência dos últimos dias. O momento mais tenso da semana ocorreu quando a polícia e os ativistas se confrontaram, na terça-feira passada, no aeroporto de Hong Kong, fazendo com que centenas de voos fossem cancelados.
Tal como noutros dias da semana, a Polícia Armada Popular, um corpo paramilitar chinês, efetuou exercícios na cidade que faz fronteira com Hong Kong, Shenzen, este domingo de manhã. Os ativistas temem cada vez mais uma intervenção militar de Pequim para reprimir os protestos – razão pela qual a Frente Civil de Direitos Humanos apelou sucessivamente para que a marcha ocorresse de forma pacífica.
Pequim tem endurecido o tom em relação aos protestos e os meios de comunicação estatais têm-nos representado de forma pejorativa, aumentando a retórica nacionalista contra Hong Kong.