O primeiro-ministro espanhol em funções, Pedro Sanchéz, ofereceu, este domingo, receber o barco da Open Arms no porto de Algeciras, localizado na baía de Gibraltar, mas a organização humanitária espanhola rejeitou a oferta por considerar não estar na capacidade de navegar até lá.
O Open Arms (o barco tem o mesmo nome da organização) transporta 107 refugiados resgatados depois de a sua embarcação ter naufragado no Mediterrâneo, encontrando-se ao largo da ilha de Lampedusa, Itália, há 17 dias. A embarcação está a ser impedida de aportar no porto da ilha pelo líder da extrema-direita e ministro do Interior, Matteo Salvini.
"Pedi para que se habilite o porto de Algeciras para receber o Open Arms. Espanha atua sempre ante emergências humanitárias. É necessário estabelecer uma solução europeia, ordenada e solidária, liderando o desafio da migração com os valores do progresso e humanismo da UE", escreveu Sánchez no Twitter.
Mas deslocarem-se até ao porto indicado pelo primeiro-ministro significaria navegar quase mil milhas náuticas, o equivalente a quase dois mil quilómetros. "Não aceitamos ir para Espanha. Não podemos pôr em perigo a integridade física dos imigrantes e da tripulação. Precisamos de desembarcar já" , insistiu um dos porta-vozes da organização.
"Depois de 26 dias de missão, 17 de espera , com 134 pesoas a bordo, uma resolução judicial a favor e seis países disposto a acolher [os refugiados], querem que naveguemos 950 milhas, uns cinco dias mais, para Algeciras, o porto mais longínquo do Mediterrâneo, com uma situação insustentável a bordo?", perguntou, por sua vez, o fundador da Open Arms, Òscar Camps, pelo Twitter. Camps acrescentou noutro tweet que o "desepero tem limites" e publicou um vídeo onde se via quatro refugiados a atirarem-se ao mar para chegar à ilha a nado. Recorde-se que navegar da ilha Lampedusa até Algeciras significaria atravessar uma vasta parte do Norte de África, ao largo da costa da Tunísia, Argélia e Marrocos.
O Governo espanhol planeava que, uma vez que o barco desembarcasse em Algeciras, que se procedesse à distribuição dos refugiados pelos outros cinco países que se ofereceram para recebê-los: Luxemburgo, Alemanha, Portugal, Roménia e França. La Moncloa considera que o porto da cidade do sul de Espanha é o mais preparado para receber os refugiados, tendo um centro de acolhimento temporário que tem a capacidade para albergar até 600 pessoas, segundo o El País.
Além de não permitir que a embarcação aporte, o ministro do Interior tem acusado a Open Arms de mentir sobre a condição dos migrantes."Dizem-nos para deixarem os [refugiados] doentes sair e eles não aparecem doentes; dizem para deixar sair os menores e muitos deles não são menores. Verificámos se havia emergência médica e não há emergência", alegou Salvini, que permitiu que 27 menores fossem deslcados da embarcação para Lampedusa.