O primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte pôs um ponto final na invulgar coligação de Governo com o partido de extrema-direita, a Liga do seu vice e ministro do Interior Matteo Salvini, anunciando a sua demissão no Senado esta terça-feira. Conte, do Movimento 5 Estrelas, antecipou-se assim à moção de desconfiança que Salvini anunciou há 13 dias e cuja votação estava agendada para ontem.
O discurso do primeiro-ministro ficou marcado por duras críticas ao ministro do Interior, que se encontrava sentado ao seu lado. Conte não se mostrou, ainda assim, arrependido de se ter coligado com a extrema-direita. “Caro ministro, caro Matteo, se quer pôr um fim nesta crise, retire os ministros”, atirou Conte firmemente. “Disse que ia ser o advogado do povo, por isso a ação do Governo encerra-se aqui. Vou ao Presidente da República pedir a minha demissão como primeiro-ministro”, anunciou.
O chefe de Governo acusou Salvini de oportunismo e de ter agido não no interesse dos italianos, mas por interesse partidário e pela sede de poder. ”Mancharam 14 meses de intensa atividade do Governo para alimentar os media”, insinuou Conte, acrescentando: “A verdade é que no rescaldo das [eleições] europeias, Salvini, com base no seu resultado, montou uma operação de afastamento gradual do Governo, de forma a encontrar uma desculpa para provocar uma crise e ir às urnas”.
Aproveitar as sondagens O poder para dissolver o Parlamento está nas mãos do Presidente da República, Sergio Mattarella. Salvini lançou a moção de desconfiança ao seu próprio parceiro de Governo, na esperança de desencadear eleições para capitalizar a recente subida nas sondagens, que põem a Liga em primeiro lugar com larga vantagem, a roçar os 40% das intenções de voto. Uma aposta apoiada pela Força Itália, do antigo primeiro-ministro, Silvio Berlusconi.
No entanto, se se formar uma nova maioria, Matarella poderá nomear um novo Governo. Na tentativa de impedir que o país vá novamente às urnas, o M5S entrou em negociações com o Partido Democrático, de centro-esquerda. Outra hipótese para o Presidente é nomear um Governo interino para preparar o Orçamento do Estado, que tem que ser apresentado em setembro. Caso o Presidente decida convocar eleições, estas terão que ser realizadas nos 45 a 70 dias seguintes.
“Somos ou não somos um país soberano?” Numa resposta a defender a sua atuação como vice-primeiro-ministro, Salvini acusou Conte de estar refém da União Europeia. “Não quero uma Itália escrava de ninguém. Não quero correntes. Estou cansado de que cada passo dependa da assinatura de algum funcionário europeu. Somos ou não somos um país livre e soberano?”, questionou Salvini, citado pelo La Reppublica.
Ainda assim, o líder da extrema-direita italiana ainda abriu portas para continuar a coligação por mais algum tempo, acenando com uma redução de deputados do Parlamento italiano, uma proposta defendida pelo M5S. “O objetivo é ir a eleições. Mas estamos prontos, se quiserem, para avançar com o corte de parlamentares. Depois vamos a eleições”, propôs Salvini.
A tensão entre o primeiro-ministro e Salvini atingiu o seu auge quando Conte recusou ratificar uma medida que bania o barco Open Arms – que está há quase três semanas ao largo de Lampedusa com uma centena de refugiados a bordo – de aportar na ilha mediterrãnica.