Bruno Lage não está preocupado com a ausência de golos por parte dos homens mais adiantados do Benfica: Seferovic (um golo em três jogos oficiais) e o reforço Raúl de Tomás (zero golos no mesmo número de partidas). Questionado sobre o tema na conferência de imprensa de antevisão ao clássico deste sábado com o FC Porto, na Luz, o técnico dos encarnados recorreu mesmo ao exemplo de um dos mais prolíficos goleadores da história do clube para justificar a sua posição em relação ao tema: Nené.
"Toda a gente o conhece, foi um dos melhores marcadores do Benfica e ele também passou por isso. Quando cá cheguei foi para treinar os meninos de dez anos e ele dizia-me isso: 'Quando não marcava golos, sofria também essa pressão e a minha resposta era correr. Sempre correr mais do que os adversários e do que os colegas que quisessem conquistar o meu lugar. Se eu estivesse a fazer esse trabalho, quando surgisse a oportunidade fazia o que fiz sempre: marcar golos'. E foi a primeira coisa que lhes disse hoje: não há problema, não lhes vou pedir para marcarem golos. Mas quando deixarem de correr não têm hipóteses. Todos eles passam por isso e não é de agora. Recordo-me de estar aqui sentado e falar sobre o João Félix, que estava há dois jogos sem marcar. Criou-se um problema, falou-se nisso e ele a seguir teve uma resposta fantástica: fez um hat-trick", salientou, completando a ideia: "Nesta sequência de 20/21 jogos de campeonato, vencemos duas vezes por 1-0. Uma no V. Guimarães-Benfica: sabem quem marcou? Seferovic, a sair do banco. Benfica-Tondela: sabem quem marcou? Seferovic, e a sair do banco".
Ainda esta sexta-feira, pouco antes, Sérgio Conceição havia referido acreditar que o Benfica tem "um dos melhores plantéis dos últimos anos". Bruno Lage respondeu de forma… diplomática. "O melhor plantel? O ano passado tínhamos. O melhor é o que vence. Este ano ainda estamos a começar, vamos agora para a terceira jornada. Se chegarmos ao fim e vencermos, concordo com o Sérgio, pois acredito que o melhor plantel é aquele que vence", começou por dizer o técnico encarnado, completando depois o raciocínio: "Se hoje nos sentimos fortes como equipa e como plantel, não podemos esquecer um passado recente, onde o treinador apostava em Rodrigo ou Lima, Witsel ou Aimar. Estou satisfeito com o nosso plantel, são todos fortes, e não apenas com os miúdos que temos oportunidade de lançar na equipa principal, mas temos de dar boas respostas em todos os momentos".
Para o treinador natural de Setúbal, o clássico deste sábado será tudo menos decisivo na luta pelo título. "Ninguém perde nada à terceira jornada e um bom exemplo é o que fizemos na época passada. Quando cá cheguei estávamos a sete pontos e o que diziam vocês de nós? Que tínhamos perdido o campeonato. E então quando chegou o treinador da equipa B, ainda mais. Independentemente da distância pontual, nada fica decidido à terceira jornada. Acho que nenhuma das equipas vai olhar para a tabela classificativa. A grande preocupação de um lado e de outro é vencer o jogo. A jogar em casa, também estamos pressionados para vencer. Eu quero essa exigência em cima de nós", frisou, parafraseando Augusto Inácio, treinador do Aves, quando questionado sobre se Chiquinho pode ameaçar o lugar de De Tomás: "Isso é o que eu ando a dizer desde o início da época: eu quero é ameaças para toda a gente. E não sou o único treinador que diz isso. Ainda hoje vi o mister Augusto Inácio falar disso quase de uma forma diferente: os jogadores têm de se sentir como se estivessem no Vietname. Nós, treinadores, todos queremos isso [um plantel competitivo]".
Nuno Tavares, lateral-esquerdo, tem jogado adaptado à direita e ainda assim vai-se cotando como um dos elementos em maior destaque nas águias. Questionado sobre o perigo de apostar no jovem num flanco onde o FC Porto terá, em princípio, Alex Telles e Luis Díaz, Bruno Lage respondeu com outro exemplo prático, abordando até a eventualidade de Sérgio Conceição poder apostar em Corona como lateral. "É o mesmo risco de colocar um ala a lateral-direito. Também é um facto de que pode trazer outro tipo de vantagens, como foi o caso do golo que marcou ao Paços de Ferreira. Se calhar, o maior risco foi colocar um jovem que tinha meia dúzia de jogos na II Ligar a titular na Supertaça e a começar o campeonato. Mas, conhecendo a qualidade do Nuno, se calhar não foi um risco tão grande", atirou o treinador do Benfica, deixando elogios ao adversário deste sábado: "Vejo uma equipa forte, determinada, com uma enorme organização coletiva e com valores individuais muito fortes. Vejo que o Díaz é um jogador que tamém procura o espaço interior, parecido com o Brahimi mas diferente. Brahimi por vezes vinha jogar à frente dos nossos médios, Díaz segura-se mais entre linhas e ataca muito as costas do nosso central. Eventualmente essa é a grande diferença, mas isso também depende muito das características dos jogadores. Neste início de época, em função dos quatro jogos que fez, e jogando com o Baró, por vezes fazem uma linha de três médios atrás dos nossos dois avançados. Uma dinâmica diferente, mas a dinâmica e a força do coletivo bem presentes".
A sequência de resultados menos positivos do FC Porto, com duas derrotas seguidas (Barcelos e Dragão, frente ao Krasnodar, que custou a presença na Liga dos Campeões), também foi desvalorizada por Lage. "Nunca analiso um jogo em função do resultado. Aliás, quando analiso um jogo nem vejo os golos. Analiso sim a qualidade do jogo. Nestes quatro jogo, como nós, têm coisas muito boas e menos boas. Acredito que do outro lado também seja isso que esteja em mente: ter cuidados com o que fazemos de bom em termos coletivos e tentar aproveitar as coisas que ainda não estão tão bem trabalhadas. Tentem um dia fazer uma análse de um jogo sem saber o resultado e sem ver os momentos dos golos. E se calhar vão ter uma análise diferente daquela a que nos leva o resultado", atirou aos jornalistas presentes na sala.
O assunto Rafa foi igualmente abordado. Após o jogo do Benfica com o Belenenses, SAD, no Jamor, a newsletter das águias queixou-se de uma alegada perseguição dos adversários ao internacional português e de complacência das equipas de arbitragem para com esse comportamento. O treinador encarnado acabou por comentar o tema pedindo igualdade de critérios na análise dos lances. Gosto de ver arbitragens à inglesa. Não estamos aqui a olhar para o Rafa. Independentemente de quem seja, pode ser o Rafa, o Rúben Dias. Acredito que um jogador que drible um outro jogador, passe por ele e seja travado em falta, tem de ser cartão amarelo, isso é que olhar para o jogo ofensivo. Não é caça ao Rafa nem a ninguém em particular. Se queremos privilegiar o futebol ofensivo, tem se ser amarelo quando um jogador é travado em falta depois de driblar um adversário. Contra ou a favor do Benfica. Avisar na primeira falta, na segunda e na terceira enerva de um lado e de outro. Se na primeira falta sai um cartão amarelo para um dos lados, um bom árbitro agarra logo o jogo e segue-o determinado. E os jogadores percebem que não podem travar assim um jogador em falta", finalizou.