A odisseia do Open Arms no mar acabou esta semana, quando um tribunal italiano ordenou, na quarta-feira, o desembarque «imediato» dos 83 refugiados que ainda estavam a bordo, porto da ilha de Lampedusa, após terem estado 19 dias nas águas do Mediterrâneo, impedidos de atracar pelo líder da extrema-direita e vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini. Agora a pressão sobre a organização humanitária espanhola vem de Madrid.
O Governo espanhol ameaçou a Open Arms com uma multa de 900 mil euros por ter violado a proibição de navegar em águas territoriais líbias, segundo um documento da Marinha Espanhola, obtido pela AFP.
«A Open Arms não tem permissão para resgatar [migrantes]», afirmou Carmen Calvo, vice-primeira-ministra espanhola, à Cadena Ser. «Isto é um Estado [o espanhol] regulado pela lei, toda a gente sabe o que pode e o que não pode fazer», acrescentou. Em reação às palavras de Calvo, o fundador da organização catalã, que estava a bordo com os refugiados, comparou a vice-primeira-ministra ao líder da extrema-direita italiana: «Muitas vezes não sei se é ela a falar ou o ventríloquo do Salvini». Recorde-se que o artigo 98 da Convenção das Nações Unidas prevê, que se deve prestar «assistência a qualquer pessoa encontrada no mar em perigo de desaparecer».
O barco transportava inicialmente 147 pessoas, a vasta maioria proveniente de países africanos. Na sequência da pressão da imprensa internacional, Salvini foi obrigado a permitir a retirada da crianças não acompanhadas, no dia 17 de agosto.
Madrid ainda ofereceu, mas só ao fim de 18 dias de desespero dos tripulantes e refugiados a bordo, o porto de Algeciras, na baía de Gibraltar. Oferta essa que a Open Arms rejeitou por não ter condições para navegar mais cinco dias até esse destino. «Não podem vir dizer-nos 18 dias mais tarde para irmos para Espanha: é uma postura mediática», defendeu Camps ao el diario.
As condições no barco foram-se deteriorando de dia para dia. Carência de alimentos, infeções a propagarem-se, crises de ansiedade a irromperem e falta de medicamentos. Temia-se o pior. Chegou a tal ponto que vários refugiados chegaram a atirar-se para o mar para tentar chegar à ilha a nado. «O que é que precisamos mais? Que as pessoas morram a bordo? As pessoas que não morreram no mar precisam de morrer aqui no Open Arms? É disso que precisamos?», apelou o fundador da organização num vídeo publicado no Twitter dias antes de conseguir finalmente chegar a terra.