Não são apenas os recentes dados sobre o crescimento das exportações e da produção industrial na Alemanha, Itália e Reino Unido que mostram evidentes sinais do arrefecimento da economia europeia e dos sinais de alarme em todo o mundo. Os investidores há meses que anteciparam esse movimento: as fortes quedas nas taxas das obrigações (a atingirem valores mais baixos dos últimos 30 anos) refletem por um lado alguma hesitação por parte dos Bancos Centrais – atualmente são as políticas monetárias que determinam os movimentos da curva das taxas de juro – mas também o medo da recessão europeia e do abrandamento da economia mundial.
Não perspetivo uma entrada em recessão a curto-prazo a nível mundial, apesar da curva das taxas nos EUA se ter invertido. Mas há, hoje, todas as evidências que existiram em 1929, até com o emergir de uma nova Era da Tirania, para além dos ingredientes sociais, tecnológicos, económicos e financeiros da conjuntura.
Mas, ao contrário do resto do mundo, a Europa pode mesmo mergulhar na estagnação, com a recessão na Alemanha – corolário do seu habitual erro na análise de risco – uma economia exportadora dependente das compras externas (de adversários), em que uma queda de 10% nas exportações provoca uma queda de 5% no PIB.
É esse o contexto a próxima legislatura e por isso, ela dificilmente irá acabar bem para o Partido Socialista, que segundo as sondagens vence as próximas eleições.
E não vai acabar bem por questões de suspeitas criminais que eventualmente envolvam membros de governo, nem pelo nepotismo ou as desconfianças sobre a seriedade de negócios como a venda da Partex, a compra do substitutos dos Hércules C-130 para entrega em 10 anos (pior só os submarinos!) , a compra dos novos Airbus para a TAP, a compra dos 22 comboios para a próxima década, a promessa de construção de uma ponte no Barreiro (a maior distância possível no Tejo e onde não há trafego, em vez de uma paralela à Ponte 25 de Abril, a ligar a A33 à CRIL/CREL onde as filas são cada vez maiores), a revenda da Tranquilidade por 300 milhões (quando foi vendida há dois anos por António Costa à Apollo por 30 milhões), o desnatamento dos ativos do Novo Banco, com os Estado a pagar imparidades e supostas desvalorizações do imobiliário (é o único caso de desvalorização de imóveis em Portugal!), as milhares de compras do Estado sem concursos públicos, a concessão dos terminais de Sines a estrangeiros, as novas rendas da energia, a nacionalização da gestão do Hospital da Cruz Vermelha ou das nomeações do Ministério das Finanças ou da humilhação do presidente dos EUA não querer vir a Portugal, pela nossa irrelevância mundial, (que António Costa ampliou pela ausência de política externa), etc.
Também não será por causa dos camionistas de substâncias perigosas, humilhados pelo arrogância do Governo, do protesto ‘Zero’ das polícias ou por causa dos incêndios e pela falta de resposta às óbvias mudanças climáticas aceleradas pela ação humana.
O maior desafio que o Governo português terá na próxima legislatura será o problema do crédito fácil e da tentação de seguir o padrão alemão – aquilo que eu chamaria ‘a tentação de Sócrates’: seguir as facilidades europeias que nos levarão a outra crise soberana ou manter o rigor orçamental e aumentar ainda mais a divergência do nível de vida dos portugueses e da Europa.
Quando se instalar a recessão na Alemanha, o BCE e a Comissão Europeia vão usar toda a artilharia monetária e orçamental disponível para provocarem a inversão das expectativas. O próprio Spiegel anunciava esta semana que o Governo alemão já decidiu abandonar o equilíbrio orçamental em caso de recessão e que está a estudar um pacote de 50 biliões de medidas anticíclicas. Exatamente, como aconteceu em 2008.
Ora, é esse o dilema impossível: países fortemente endividados como Portugal tem que saber resistir à tentação de aumentar artificialmente a procura e sobretudo, de aceitarem os incentivos alemães para que comprem mais produtos alemães (máquinas e automóveis) para depois, quando a economia alemã recuperar, à custa de toda a Europa, sermos de novo asfixiados com a pressão dos mercados, sem qualquer solidariedade europeia. Porém, ao fazerem isso, os governos perdem o apoio popular, por não poderem explicar que estamos mais pobres por causa do Euro e da Alemanha.
Portugal, como notou recentemente o FMI, tem a terceira maior dívida pública em valores absolutos do mundo (quando somamos, à dívida pública, os compromisso com saúde e pensões) e por isso, não tem margem de manobra orçamental para tentações consumistas ou expansionistas.
E os sinais já estão aí: este ano, pela primeira vez desde a grande crise, temos uma explosão na compra de automóveis novos, ultrapassando os números pré-Troika, o que destrói o equilíbrio externo e nos empurra para a desconfiança dos mercados.
* Professor Universitário