Não houve participantes portugueses no encontro organizado pela rede de políticos católicos International Catholic Legislators Network (ICLN), que decorreu no fim de semana de 24 e 25 de agosto em Fátima. Os participantes da conferência à porta fechada chegaram e foram embora com a mesma discrição. D. António Marto, que aliás aparece numa das poucas fotografias partilhadas no Twitter pelo deputado queniano Chris Wamalwa, um dos participantes, concelebrou a missa de boas-vindas, que teve lugar na quinta-feira ao final da tarde na Basílica Nossa Senhora do Rosário de Fátima, mas não se pode dizer que tenha convivido com o grupo. Fonte próxima explicou ao SOL que se tratou de uma «cortesia» após o pedido de celebração no santuário.
Ao JN, o chefe do gabinete de D. António Marto revelou mesmo que chegaram a solicitar o programa ao grupo, ao qual não tiveram acesso. «Só soubemos um pouco antes da missa quem eram os eclesiásticos. Precisámos de saber até por questões protocolares». E se o movimento é conotado com a direita conservadora, a questão foi desvalorizada. «Não tivemos qualquer indicação de que é um grupo extremista, de direita ou de esquerda, nem de quem estaria presente no encontro».
Como o SOL avançou na edição do passado fim de semana, o primeiro-ministro Viktor Orbán foi um dos convidados do encontro rodeado de secretismo, a par do chefe de gabinete de Trump – Mick Mulvaney deixou o encontro no sábado, de viagem para a cimeira do G7 em Biarritz. Além da participação dos patriarcas das igrejas católica e ortodoxa da Síria, foi também confirmada a presença do cardeal chinês Joseph Zen Ze-kiun. Os trabalhos foram presididos pelo arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, figura próxima de Ratzinger, considerado mais moderado do que os dois rostos da política internacional que acolheu em Fátima.
O SOL apurou que a participação do primeiro-ministro húngaro Viktor Órban esteve em linha com o próprio tema daquela que foi a 10ª conferência anual deste organismo, que no seu site se apresenta com um movimento não partidário e independente de promoção dos valores cristãos na vida política e formação regular de políticos no ativo. As políticas de família foram um dos tópicos discutidos e Órban, que tem apresentado as suas ideias sobre o assunto como alternativa a uma Europa de portas abertas a migrantes, veio apresentar o controverso caso húngaro. Em fevereiro prometeu por exemplo que as mulheres com quatro ou mais filhos passariam a estar isentas de impostos, numa medida de promoção da natalidade. «Querem que entrem tantos migrantes como há menos crianças, para que os números aumentem. Nós, húngaros, temos uma maneira diferente depensar. Em vez de apenas números, queremos filhos húngaros. A migração para nós é rendição», disse Órban, citado pelo The Guardian, em linha com outros discursos xenófobos proferidos pelo líder autoritário à frente da Hungria.
No site da ICLN não foi publicada nenhuma nota sobre o encontro, promovido como um evento «histórico» e experiência «life-changing» num vídeo divulgado em fevereiro. Há apenas uma fotografia do santuário. Já no encerramento da passagem por Portugal, o grupo participou na missa dominical no santuário e recebeu as boas-vindas de D. António Marto, saudação habitual nas missas internacionais no recinto.