Maggie (nome fictício) sabia que tinha sido concebida através de inseminação artificial, só queria desvendar um pouco mais das suas origens. O que podia ser uma viagem relativamente comum – estimam-se 30 a 60 mil nascimentos nos EUA por ano fruto de espermatozoides ou óvulos de dadores – viria a tornar-se numa das peças do maior caso de fraude em tratamentos de fertilidade nos EUA no passado recente. Descobriu que afinal o médico que seguiu a mãe tinha usado o próprio esperma. Como ela, terão nascido 48 crianças entre o final dos anos 70 e a década de 80 após tratamentos da clínica de Donald Cline, em Indianopolis. O caso chegou à justiça em 2017 e levou nos últimos meses o Estado do Indiana a alterar a legislação para permitir a criminalização de uma prática durante anos desconhecida. Quão comum terá sido, o que terá movido os médicos a omitir ou a mentir mesmo aos casais, acabando por usar as suas células nos tratamentos? Jody L. Madeira, investigadora na Universidade do Indiana, dedica-se a estas questões e tem estado a recolher informações sobre os casos que têm vindo a público no país e a entrevistar filhos e famílias. Foi o caso de Maggie, que entrevistou no ano passado e lhe relatou como acabou por descobrir a verdade.
Ficheiros secretos da infertilidade
Testes de ADN revelaram, em abril, que o médico holandês Jan Karbaat usou o próprio esperma em inseminações artificiais que resultaram no nascimento de pelo menos 49 crianças. Nos EUA, casos semelhantes já levaram seis médicos a tribunal. Jody Lynée Madeira, investigadora da Universidade do Indiana, recolheu testemunhos e é uma das defensoras, nos Estados…