Letícia Melo, uma advogada de 26 anos foi vista pela última vez, no dia 23 de agosto, à espera de um autocarro numa paragem, em Brasília. No dia 26 de agosto, foi encontrada morta. Com o apoio das câmaras de vigilância, presentes na estação, foi possível concluir que a última vez que Letícia tinha sido vista com vida, tinha sido a entrar num carro comercial cinzento.
O dono do carro, o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, foi interrogado pelas autoridades e confessou ser o autor de um crime horrendo: enforcou Letícia, depois de esta se ter recusado a ter relações sexuais com ele no carro. Ao investigarem o homem, as autoridades brasileiras descobriram que este foi o autor de outros crimes e agressões sexuais que ocorreram no Brasil. A polícia concluíu ainda que o cozinheiro foi o autor de pelo menos mais uma morte e três casos de abuso sexual.
Marinésio confessou ter matado outra mulher, Genir Pereira de Souza, cujo corpo foi encontrado no dia 12 de junho. O caso foi muito parecido ao de Letícia Melo. Souza esperava pelo autocarro quando foi abordada pelo cozinheiro que lhe perguntou se queria boleia e dias mais tarde foi encontrada morta, também por enforcamento. Segundo as declarações do criminoso, depois de terem tido relações sexuais consensuais, o homem matou-a de imediato. Quando questionado pelas autoridades sobre o porquê, Marinésio dos Santos diz que não sabe explicar o porquê. "Não sei o que se passou na minha cabeça", confessa.
Devido aos atrasos constantes nos transportes no Brasil, muitos condutores optam por realizar transporte clandestino e muitos dos passageiros, fartos de esperar, acabam por aceitar e pagar o mesmo que iriam pagar à transportadora ao condutor. O criminoso negou oferecer este tipo de serviços às autoridades.
Quando o caso de Letícia Lopes foi partilhado pelos órgãos de comunicação social brasileiros, três mulheres também o acusaram de as ter tentado violar. Duas delas, irmãs, foram abordadas à saída de uma festa, num sábado à noite, e tiveram que atingir o cozinheiro com uma panela de ferro para conseguirem escapar. A outra diz ter saltado do carro do agressor em movimento, quando percebeu que este tinha más intenções.
Além destes casos, vários foram reabertos pelas autoridades depois de conhecerem Marinésio, um homem de 41 anos, que apelidam de “maníaco em série” que apresenta um “perfil desviado", devido à parecença com os casos mais recentes da autoridade.
Janaína Lopes foi uma das vítimas de abuso sexual de Marinésio que decidiu contar a sua história. A situação remota há quatro anos. Quando a mulher esperava pelo autocarro, por volta das 22h00, o cozinheiro saiu do carro e a abordou-a com uma faca nas costas.
"Ele foi descendo a rua comigo e levou-me para o mato a pé. Eu só pedia a ele para não me magoar", conta. O agressor começou a beijar Janaína Lopes contra a sua vontade. "Ele colocou os joelhos nos meus pulsos e tentava subir a minha saia. Disse que era para deixa-lo fazer o que queria se não me mataria. Quando ele percebeu que eu estava perdendo as minhas forças, começou a tentar enforcar-me. Veio-me uma luz, tive a ideia de me fingir de morta".
Quando Marinésio percebeu que a mulher ainda estava viva e tudo não passava de um truque voltou a beijá-la, no entanto, o barulho de uma mota da polícia acabou por salvá-la. "Ele assustou-se e soltou-me. Foi aí que eu dei um chuto nele e saí correndo atrás do guarda. Ele correu para o outro lado".
Janaína decidiu contar a sua história depois de ver o homem na televisão, acusado do assassinato de Letícia. "Senti-me muito mal. Vivi novamente aquela noite. Lembrei-me de cada detalhe", desabafou.
Marinésio dos Santos Olinto esteve desempregado desde junho de 2018 até há um mês atrás, altura em que encontrou trabalho num restaurante. É casado há 17 anos e tem uma filha de 16 anos, que tinha ido levar ao colégio antes de dar boleia a Letícia Lopes.
A família do cozinheiro decidiu sair de casa, depois de a cara do homem estar espalhada por toda a cidade de Brasília e por temerem as consequências de serem associadas ao mesmo. "Nós estamos sem sair, ficámos escondidas. Desde que tudo aconteceu, ameaçaram atear fogo à casa onde morávamos e tentaram rebentar o portão", disse a mulher do suspeito, sob anonimato, em entrevista ao Correio Brasiliense.
"Está muito difícil. Estamos surpreendidas até agora. Para mim, ele era a mesma pessoa até hoje, desde que eu o conheci no Paranoá, em 2002. O Marinésio nunca me espancou, nunca bateu na filha dele, nunca levantou a mão para a gente. Era um bom pai, um bom marido. Todo o mundo que o conhecia diz que a ficha ainda não caiu. Eu não vou falar que ele era ruim para mim só porque fez isso, porque não era", acrescentou.
Depois dos casos virem a público, a secretária de transportes do governo do Distrito Federal declarou estar a tentar renovar a frota de autocarros para diminuir os atrasos e alerta os passageiros para os perigos do "transporte pirata".