Madison Campbell tem 23 anos e, ao Brooklyn Daily Eagle, avançou que foi vítima de abuso sexual enquanto estava na faculdade. Com o objetivo de "ajudar outros sobreviventes e não aproveitar-se dos mesmos", criou o kit MeToo, o primeiro de autorecolha de ADN para quem quer denunciar as agressões de quem foi vítima às autoridades. Assim, através de cotonetes para recolher fluidos da boca e das zonas genitais e de um saco para roupa, os ofendidos têm a oportunidade de preservar as provas e entregarem-nas à polícia ou a um escritório da Title IX (caso sejam estudantes universitários), uma lei que se materializou em escritórios espalhados por campus de instituições do Ensino Superior com o propósito de combater o assédio sexual.
Através da consulta do site oficial do kit, é possível verificar que várias perguntas são respondidas, a priori, por Campbell. Por exemplo, à questão "será que o kit é aceite em tribunal?" pode ler-se que não há garantia de que as provas recolhidas sejam admitidas em tribunal mas que o movimento lutará pelo apoio de jurisdições federais e estatais. Naquilo que diz respeito ao timing da compra, isto é, se deve ser realizado antes ou após uma violação, a jovem é assertiva: "Gosto de pensar nesta analogia: compramos um alarme para os dias em que não existe um fogo ou para o dia em que deparamos com ele? O kit é quase impeditivo do abuso sexual". Sublinhe-se que o MeToo ainda não se encontra no mercado e será vendido em farmácias, através de campanhas realizadas junto de consumidores e também por meio de crowdfunding.
"Acima de tudo, o nosso kit dá poder aos sobreviventes para que possam recolher provas com calma, no seu próprio tempo" explicou a nova-iorquina Campbell. Porém, esta novidade não tem agradado a todos e exemplo disso é a procuradora Dana Nessel, do estado do Michigan, que acusou a criadora do kit de "tentar obter lucro através do movimento 'MeToo' com um produto de marketing que leva as vítimas a adiar a procura de cuidados médicos". Por outro lado, representantes da New Jersey Coalition Against Sexual Assault esclareceram, em comunicado, que "parece inadmissível que uma companhia beneficie financeiramente do abuso sexual enquanto arrisca a perda de justiça pelas vítimas mas é exatamente isso que a MeToo Kit Company faz".
Salientando que, nos EUA, somente 23% dos casos de violação são reportados às autoridades, Campbell deixou claro ao Brooklyn Daily Eagle: "Sei perfeitamente o quão aterrorizador e traumático o abuso sexual é. Nem sequer conseguia tocar em mim quando isto me aconteceu. Não fui capaz de contar a ninguém. Por isso, só pretendo dar privacidade aos sobreviventes para que processem o seu trauma. Porque, sem este kit, podem ir à polícia mas o ADN estará completamente degradado".
Recorde-se que o movimento MeToo, contra o assédio e o abuso sexuais, tornou-se viral nas redes sociais em outubro de 2017 através de uma hashtag homónima. A atriz Alyssa Milano decidiu inspirar-se na demissão de Harvey Weinstein da Academy of Motion Picture Arts and Sciences para dar voz às mulheres que sofreram e pretendiam contar a sua história.