Todos nós temos no nosso imaginário a beleza de um coral, a festa multicolorida que fazem quando se juntam formando um recife é um espetáculo inigualável em termos de cores, formas e vida marinha. É provável que muitos de nós saiba que os corais são uma espécie ameaçada de extinção, inicialmente pela apanha desregrada para fabrico de joias, depois para a indústria de medicamentos e, atualmente, devido à acidificação dos oceanos. Talvez poucos associem um coral a um animal, que se alimenta comendo zooplâncton, que tem um esqueleto (exógeno) que lhe permite fazer movimentos e que se reproduz.
As alterações climáticas e a acidificação dos oceanos são, neste momento, as grandes ameaças para os recifes de corais. A cor branca associada aos recifes quando estão a morrer é, em geral, o princípio do fim. É possível recuperar alguns corais mesmo que comecem a ficar esbranquiçados, mas se o fenómeno for prolongado, o mais certo é o coral morrer e terminar como objeto de decoração, num luxuoso apartamento.
É importante que tenhamos todos a noção de que o maior valor de um coral é quando está vivo e não quando está morto. A sua existência permite gerar vibrantes ecossistemas repletos de animais marinhos, contribuindo para a sustentabilidade da vida na terra. Também, em termos económicos o valor máximo de um coral é quando está vivo, como é o exemplo dos melhores locais de mergulho do mundo, repletos de mergulhadores responsáveis, que procuram conhecer melhor estes misteriosos animais marinhos, gerando avultadas receitas para o turismo costeiro.
Um dos exemplos mais extraordinários de santuários de mergulho no mundo é a Ilha Graciosa, nos Açores. Em qualquer mergulho na Graciosa é visível a abundância de vida marinha (tubarões, tartarugas, jamantas, meros…) que resulta dos aglomerados de pedras, de grutas, de destroços e, também, de recifes de corais, onde se inclui o coral negro.
O coral negro é um dos corais mais raros do mundo. No Havai é considerado a joia preciosa oficial do arquipélago. Normalmente é nos trópicos onde se conseguem encontrar mais vezes, no entanto, noutros ecossistemas, como o dos Açores, também se podem encontrar corais negros.
A Graciosa tem sido uma referência no que respeita ao mergulho ambientalmente sustentável. Nesta ilha não é a quantidade de mergulhadores que conta, mas sim a qualidade dos mesmos, o tempo que ficam, o respeito que têm pela natureza e a interação que têm com a comunidade. Esta estratégia tem sido ótima em termos de maximização da margem por mergulho e minimização do risco ambiental associado.
Está na hora de se começar a associar o valor económico à vida, ou seja, às verdadeiras joias preciosas que são as joias submarinas vivas e não aos esqueletos que resultam da sua morte.
*Sócio da PwC