A partir daí tudo se complicou.
Outros se apropriaram da ideia do divórcio e roubaram a bandeira.
E os políticos conservadores foram ultrapassados pelas circunstâncias. Mesmo que não queiram o Brexit, qualquer eleição na qual o não defendam sabe a suicídio.
Boris Johnson tentou um saída.
A estratégia foi isolar May, identificar o partido trabalhista como capitulacionista, conquistar o poder interno e tornar o Brexit, assim ou assado, inevitável.
Talvez se tenha precipitado.
Esqueceu-se que as eleições por ele pretendidas dependiam de outras condições.
E, assim, aquilo que parecia uma galopada para a glória, corre o risco de ser uma sucessão de derrotas até que as urnas o redimam.
Em Itália, outro voluntarista entendeu ser chegada a sua hora.
O Movimento 5 Estrelas abriu-lhe a porta para o poder. No essencial, destruiu o equilíbrio político tradicional italiano, tornou tudo possível.
E Salvini, cavalgando o populismo, divisou uma oportunidade e agudizou uma crise.
A sua ambição de eleições que lhe dessem o triunfo esperado fê-lo precipitar-se.
Longe de se remeter ao cerco a que parecia condenado, o 5 Estrelas recebe a ajuda do partido do Governo que contribuíra para despedir do poder.
A estratégia de Salvini esbarrou nas sete vidas da herança política italiana.
Resta-lhe esperar pelo insucesso do Governo em construção e continuar a sonhar com a sua maioria.
A Espanha assistiu ao ressurgimento do Partido Socialista.
A receita foi apostar na divisão da direita e acreditar no estrago a fazer pela extrema direita.
Foi acenar com a ideia do equilíbrio condicionando a esquerda do Podemos e vergando-a.
Foi perceber como a questão da Catalunha é um espinho cravado em qualquer hipótese de aproximação ao Podemos.
Daí, deixar que os astros determinem a impossibilidade e eleições aconteçam.
Até lá, a estratégia a seguir exige prudência e astúcia e a atribuição do insucesso aos outros.
Até lá, a Espanha tem, dificilmente, Governo.
Por aqui, neste oásis à beira mar plantado, não tem menor peso a estratégia.
O Partido Socialista precisa de mãos livres, precisa de maioria absoluta.
Não deve dizê-lo, porém.
A ocupação do centro garante-lhe uma posição confortável, mas o envolvimento da esquerda é essencial. Tão essencial como uma flor na lapela.
Incomoda-se, porém, o eleitorado com a persistente influência do BE.
E é aqui que as questões principais se levantam
O PS diz que o BE é o partido dos mass media, que vive para a notícia.
O BE refunda-se, do ponto de vista comunicacional, e diz-se social-democrata.
O BE quer casamento, o PS reclama a amizade.
O PS é a esquerda boa.
O BE é a sanguessuga.
A teia que o PS teceu corresponde à estratégia da aranha.
Sabe que a relação de forças depende menos dos partidos do que do sentimento das grandes áreas urbanas determinantes para a formação de maiorias. Fala para elas, governou para elas, sente-se forte.
Noutras Europas há drama e incerteza, diz.
Aqui, a aranha espera…