O antigo primeiro-ministro italiano Matteo Renzi abandonou o Partido Democrático (PD), prometendo levar consigo quase 20 deputados e 10 senadores para formar um novo partido. A manobra do ex-líder dos democratas divide ainda mais a frágil coligação entre o PD e o Movimento 5 estrelas (M5S, na sigla em italiano). Entretanto, Renzi assegurou já ter ligado ao primeiro-ministro Giussepe Conte, garantindo que mantém o seu apoio ao Executivo.
Para justificar a sua decisão, Renzi escreveu no Facebook que está cansado de “disputas internas todos os dias”, depois de “anos a ser alvo de fogo amigo”. E assegurou que o seu objetivo é “construir uma nova casa com outros, para fazer política de uma maneira diferente”. Já os críticos acusam-no de querer voltar à ribalta, depois de se demitir como primeiro-ministro em 2016 – após ser derrotado num referendo – e do seu péssimo resultado nas eleições de 2018, que o levou a demitir-se como líder do PD.
“Chega de narcisismo”, escreveu o fundador do M5S, o comediante Beppe Grillo. “Ele [Renzi] sabe que cada minuto longe da ribalta, nestas semanas, corresponde a ser esquecido durante meses”, notou. Grillo referia-se à instabilidade política em Itália, dividida entre um Governo composto por dois ferozes rivais e o crescimento dos nacionalistas da Liga, liderados por Matteo Salvini.
Já o atual líder democrata, Nicola Zingaretti, respondeu à manobra de Renzi no Facebook, considerando ser “um erro” dividir o partido. “Especialmente num momento em que a sua força é indispensável para a qualidade da nossa democracia”.
Entretanto, Renzi tem tentado afirmar-se como a antítese do outro Matteo. “Mandar Salvini para casa continuará a ser uma das coisas em que tenho mais orgulho no meu currículo”, garantiu ao La Reppublica. O ex-líder dos democratas foi um dos principais proponentes da coligação entre o PD e o 5 Estrelas, com o objetivo de afastar a Liga do poder – mas acabou por ser deixado de fora do novo Executivo.
Contudo, a saída de Renzi do PD não é apenas por uma disputa de lugares. “Ele vê esta aliança a mover-se demasiado para a esquerda”, disse ao The Guardian Franco Pavoncello, professor de ciência política na Universidade John Cabot, em Roma. Mas é difícil ver uma orientação assim tão à esquerda neste Governo – pelo menos no que toca à imigração. O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, garantiu a Bruxelas: “Seremos ainda mais rigorosos quanto à imigração ilegal que o Governo anterior”.