Dois ataques provocam dezenas de mortos no Afeganistão

Estão confirmados pelo menos 50 civis mortos. Com a quebra das negociações de paz, a violência intensificou-se.

Mesmo enquanto decorriam as negociações de paz entre os Estados Unidos e os talibãs, o terror no Afeganistão parecia não ter fim à vista. Com o fim das conversações no início deste mês, o número de mortos continua a aumentar como se estivéssemos a contar os minutos que passam. Entre quarta e quinta-feira somaram-se, pelo menos, 50 civis mortos em dois incidentes separados, dos dois lados da barricada. E tudo isto em período eleitoral.

Na noite de quarta-feira, um ataque aéreo conduzido pelas Forças Armadas afegãs, apoiado pelas forças norte-americanas, na província de Nangarhar, em Wazir Tangi, a sudeste da capital afegã, Cabul, atingiu acidentalmente um campo agrícola, provocando a morte de cerca de 30 pessoas que descansavam depois de um dia de trabalho a recolher pinhões e feriu outras 40, de acordo com as informações de três agentes das autoridades afegãs à Reuters

“Os trabalhadores acenderam uma fogueira e estavam sentados em grupo quando um drone os atingiu”, disse Malik Rahat Gult, líder tribal, de Wazir Tangi, por telefone à Reuters. “As forças norte-americanas conduziram um ataque, realizado por um drone, contra os terroristas do Daesh [Estado Islâmico]”, afirmou o coronel Sonny Legget, porta-voz dos militares norte-americanos no Afeganistão, citado pela agência de notícias britânica. E confirmou que o ataque tinha atingido civis, sem dar pormenores sobre as vítimas: “Estamos a par das alegações da morte de não combatentes e estamos a trabalhar no local para determinar os factos”. O Estado Islâmico ainda não se pronunciou sobre o acontecimento.

Esta quinta-feira de manhã, no sul do Afeganistão, em Qalat, capital da província de Zabul, deu-se um atentado por carro–bomba, reivindicado pelos talibãs, perto de um hospital. A explosão matou pelo menos 20 pessoas e feriu 95. Segundo a Al Jazira, os extremistas islâmicos tinham como alvo um departamento de informações do Governo afegão. 

Por outro lado, de acordo com um funcionário de alta patente do Ministério da Defesa afegão, os talibãs queriam atingir uma base de treino da poderosa agência de segurança do país. Mas, à semelhança do drone norte-americano, as vítimas foram civis inocentes: moradores, muitos deles em visita aos seus familiares internados no hospital, diz a Al Jazira. Mulheres, crianças, pacientes e trabalhadores do hospital estão incluídos na quase centena de feridos. “O número de vítimas pode crescer à medida que as equipas de resgate e outras pessoas continuam a procurar corpos por debaixo dos destroços”, adiantou Haji Atta Jan Haqbayan, membro do conselho em Qalat, à Al Jazira

Os talibãs têm realizado atentados quase diariamente desde a quebra de negociações para a retirada das forças norte-americanas – que o Presidente dos EUA encerrou abruptamente, numa altura em que tudo indicava que estava na iminência de firmar um acordo, alegando que os talibãs não estavam a negociar de boa-fé. O grupo terrorista islâmico avisou inclusive que iria intensificar a campanha de violência contra o Governo do Afeganistão e as forças aliadas até à data das eleições, marcadas para o próximo dia 28 de setembro. Prometeu e cumpriu. Na passada terça-feira realizou dois atentados, vitimando 48 pessoas – um deles num comício de campanha do Presidente afegão, Ashraf Ghani. 

As hostilidades já levaram à morte de quatro mil civis, este ano, de acordo com as estimativas de um relatório das Nações Unidas publicado em agosto. Embora o número de vítimas civis seja inferior ao do ano passado, o acentuar do conflito entre as forças afegãs, apoiadas pelos EUA, e os talibãs provocaram um aumento de 27% no número de mortes no segundo trimestre, em comparação com o primeiro. Segundo o mesmo documento, as forças aliadas do Governo afegão mataram mais civis do que os talibãs ou o Estado Islâmico, que está no país desde 2014.