No rescaldo dos ataques com mísseis e drones a uma refinaria saudita – que o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, apelidou de um “ato de guerra” do Irão e que levou ao envio de mais tropas e equipamento militar dos Estados Unidos para o reino saudita -, Teerão anunciou que vai apresentar às Nações Unidas um plano para a segurança do Golfo Pérsico, umas das mais importantes rotas marítimas do planeta. “A segurança do golfo Pérsico, do estreito de Ormuz e do mar de Omã são indígenas”, afirmou ontem o Presidente do Irão, Hassan Rouhani.
O plano do Irão certamente excluirá os Estados Unidos. Como tal, provavelmente será rejeitado pelas monarquias do Golfo Pérsico – muito próximas de Washington. A probabilidade de que qualquer plano iraniano seja sequer considerado dependerá da conclusão dos investigadores da ONU, que neste momento estão na Arábia Saudita a tentar determinar os culpados do ataque às principais instalações da Aramco, a companhia petrolífera saudita. “Não posso dizer à priori que as pessoas que foram enviadas vão conduzir uma investigação imparcial, porque tivemos casos em que não o fizeram”, disse à CBS o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif.
A data e local do anúncio do plano iraniano certamente não foi coincidência. Rouhani discursava numa parada militar, marcando o 39º aniversário da guerra entre o Irão e o Iraque, em que a República Islâmica saiu vitoriosa, apesar do apoio dos Estados Unidos e dos seus aliados ao então Presidente iraquiano, Saddam Hussein.
“Não estou confiante que possamos evitar uma guerra. Estou confiante que não vamos começar uma, mas quem a começar não será quem a vai acabar”, avisou Zarif esta semana, em entrevista à CNN. Em caso de um ataque ao Irão, Zarif deixou o recado: “Teremos muitas baixas, mas não hesitaremos em defender o nosso território”.
A subida de tom na disputa regional entre Irão, por um lado, e o reino saudita e os Estados Unidos, por outro, refletiu-se no envio de mais tropas e armamento norte-americano para a Arábia Saudita e para os Emirados Árabes Unidos. O chefe do Estado Maior dos EUA, Joseph Dunford, explicou aos repórteres que mais equipamento e tropas daria melhores hipóteses de se defender de ataques aéreos não convencionais.
Recorde-se que o ataque de 14 de setembro ocorreu com recurso a um enxame de drones, uma tática inovadora, nunca antes usada a tal escala. “Nenhum sistema único vai ser capaz de se defender de uma ameaça como essa”, explicou Dunford. “Mas um sistema defensivo estratificado seria capaz de mitigar o risco”, continuou.
Entretanto, Rouhani tem negado veementemente que o seu país esteja por de trás do ataque à principal refinaria do reino saudita, ou que este tenha partido de território iraniano, como afirmam os Washington e Riade. “Os diplomatas americanos estão a tentar fazer as máximas calúnias”, acusou, em declarações à televisão iraniana IRIB. Já Pompeo assegurou que o ataque às instalações da Aramco “foi um ataque do Irão contra o mundo”. O principal diplomata dos EUA acrescentou que “os iranianos estão sedentos de sangue e à procura de guerra”.
Já o Presidente dos EUA, Donald Trump, tem tentado mostrar uma posição menos dura que o seu secretário de Estado. Trump deu indícios de que prefere aumentar as pesadas sanções dos EUA a Teerão a optar por uma confrontação direta. “Nada está completamente fora de questão”, notou Trump, salientando contudo ser uma pessoa “flexível”.