«A justiça inflexível é frequentemente a maior das injustiças».
Públio Terêncio Afro
Faltam quinze dias para os portugueses irem votar, para escolher a futura composição da Assembleia da República, o futuro primeiro-ministro e o futuro Governo para os próximos quatro anos.
Com muito tempo de pré-campanha e de campanha eleitoral, o número de indecisos ainda é muito significativo, a fazer fé em alguns estudos de opinião, quer quantitativos, quer qualitativos.
A história eleitoral contemporânea e vários estudos de caráter científico dizem que as mudanças de voto em campanhas eleitorais, a acontecerem, são muito ténues. E o normal é a maioria dos indecisos, a votarem, votarem maioritariamente em quem ‘vai à frente’, e que é um quase vencedor antecipado.
Apesar disso, existem razões para que o esclarecimento e o confronto programático sejam bem percebidos pelo comum dos eleitores. E se durante muito tempo não têm faltado exemplos de como os media em geral têm ‘tratado’ o Bloco de Esquerda, de forma quase igual (às vezes até superior) aos demais partidos, nos últimos meses não tem sido difícil percecionar que quem está mais ‘na moda’ (pela positiva…) é o PAN.
Muitas têm sido as ‘borlas mediáticas’ a este partido. Não só em artigos de opinião, editoriais, perfis, espaço e tempo mediático e cada vez mais chamadas de primeiras páginas, títulos, subtítulos, fotos, destaques, etc., etc. Ou com o tratamento de conteúdos que individualmente são os pontos fortes da mensagem do PAN.
Considerando a sua atual posição no sistema partidário português, são várias as perguntas que se poderiam colocar. Uma delas é esta: se os partidos ‘considerados’ mais pequenos, como o Chega, a Iniciativa Liberal, o Aliança e o Livre, tivessem o tratamento que tem sido dado ao PAN, teriam ou não outras condições para alcançarem um score eleitoral maior?
Mas já que o PAN está ‘na moda’ e é querido pelos media (aproveitem enquanto dura…), faz todo o sentido que programaticamente se debata e se compare o seu programa eleitoral, bem como se clarifique o efeito das suas propostas na vida dos portugueses. E nesse sentido, são cada vez mais os cidadãos, os eleitores, que nos últimos dias têm reconhecido que pouco ou nada leram do programa do PAN e que pouco ou nada conhecem das suas macro e micro propostas. Porque assumem que estão a ir na onda de que o PAN é o partido do ambiente, da ecologia, dos animais.
Mas será assim mesmo? Tudo tão inofensivo e generalista? Faz pois todo o sentido que se leia e conheça o programa – ‘Da indiferença à emergência: ainda vamos a tempo’.
Bem sabemos que a maioria dos eleitores não lê os programas eleitorais como deveria ler. Mas na atual conjuntura política, faz todo o sentido que não só leiam o do PAN como os de todos os outros partidos políticos, comparando-os e medindo os impactos da sua aplicação.
Exemplos são muitos. Acabar com a agricultura? Acabar com programas de expansão de gasodutos e reduzir o volume dos carregamentos de gás natural para o porto de Sines? Definir quotas para navios de turismo, como cruzeiros? Limitar o uso de pastas de dentes e das embalagens de cereais para pequenos almoços? Proibir a produção e a comercialização de produtos genericamente modificados? Acabar com os apoios à produção de carne e de leite? Pôr fim ao comércio e exportação de produtos de caça? Abrir a discussão para a abolição da menção de género/sexo em documentos oficiais? Proibir as transmissões televisivas tauromáquicas? Impedir a criação ou o licenciamento de novos espaços para efeitos lúdicos? Abolir o uso de animais para experiências em todos os estabelecimentos de ensino? Implementar uma nova taxa sobre voos domésticos para fomentar a mobilidade através de transportes alternativos? Despenalizar a morte medicamente assistida? Legalizar o consumo pessoal de canábis não medicinal? Permitir sessões semanais entre reclusos condenados por crimes violentos, com a exceção dos crimes de violência doméstica ou violação, e com as famílias das vítimas ou com as próprias vítimas, desde que todas as partes assim o entendam?
São exemplos. Mas existem muitas outras propostas que os portugueses devem conhecer e comparar, sobretudo no que diz respeito aos efeitos da sua concretização.
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